segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Festança da Flica 2011

foto: Marcus Ferreira 
 
Era para ser uma festa. Foi uma festança. Era para ser bom. Foi ótimo. Muitas falhas eram esperadas, poucas aconteceram de fato. Mérito da Coordenação Geral da Flica 2011? É possível, mas será residual. Quem fez a festa virar um grande acontecimento foi o público, além, é claro, de nossos parceiros e colaboradores, da equipe envolvida, do segurança ao fotógrafo.

Vamos começar pelo fator mais importante: o público. Mostrou-se sedento, vidrado, envolvido, compenetrado. Vibrou, aplaudiu, vaiou, contestou. E impressionou nossos convidados. Acima de tudo, soube compreender nossa proposta: diversidade de opiniões, total liberdade de expressão. Só como exemplo, a mesa “Contexto Racial nas Américas” fora objeto de tentativas semelhantes em universidades. Nunca deram certo, pois as plateias não permitiam. Na Flica, apenas aplausos alternados dos que concordavam com um ou outro participante. E atenção total, interesse, foco no diálogo.

Os parceiros Rede Bahia e Fundação Pedro Calmon propuseram-se a multiplicar a festa. Cumpriram, mas o resultado foi, mesmo assim, surpreendente. Muitas vezes, foi também mágico, contagiante, arrebatador. Difícil descrever em poucas linhas.

Outros parceiros também foram além, muito além do script planejado. A Oi, ao invés de olhar de longe, prestigiou a Festa através de representantes, dialogando diretamente com todos os envolvidos. O Instituto Oi Futuro, igualmente presente, agigantou a estrutura, recebeu a imprensa, trouxe novos convidados, enfim, surpreendeu-nos.  O Governo da Bahia, através das secretarias de Cultura, Educação e Turismo, soube confiar à jovem empresa Putzgrillo! Cultura os investimentos necessários e ter a satisfação de ver uma ação coordenada entre as secretarias acontecer de forma harmoniosa e eficiente. A Prefeitura de Cachoeira, por sua vez, desdobrou-se, interessada em não deixar faltar nada, solícita, preocupada com cada detalhe do evento e decisiva quando imprevistos se interpuseram.

Os autores e grupos musicais não atenderam as expectativas da Coordenação. Não imaginávamos que agiriam assim, que falta de respeito, porem-se tão à vontade, como se estivessem em casa. Performances brilhantes? Não estavam previstas. Aconteceram. Que loucura, onde estamos? Que gente é essa que chega aonde nunca esteve e faz-se local, simples, enturmada, despida de qualquer solenidade? Mais: puseram-se entre o povo, fizeram-se povo de Cachoeira, assim, sem cerimônia. E ainda deram espetáculo, belo espetáculo, indescritível, completamente imprevisto.

Por fim, last but not least, Cachoeira, sua gente, seu colorido, sua vibração. Confessamos. Ficamos como os autores, como os artistas, completamente à vontade. E na hora do debate, o povo lá, enchendo o espaço, querendo acompanhar, vibrar, torcer, ouvir, participar. Gente boa de Cachoeira, especial como a Heroica, a imortal cidade.

Por isso, ao agradecer, declaramos novamente: se há algum mérito nosso, é residual, menor. Foram os personagens e instituições citados acima os responsáveis por tão grande imprevisto: a festa virou sucesso, mexeu com Cachoeira, com a Bahia, com o mundo. E vem mais por aí, nem mais depende de nós. Toda essa gente e esses parceiros não vão deixar que paremos por aqui. O jeito é encarar tudo de novo, trabalhar para a Flica 2012, logo ali.

Obrigado, Cachoeira, gentes de Cachoeira, público, patrocinadores, parceiros, colaboradores. Obrigado por nos surpreenderem e nos deixarem pequenos, meros coadjuvantes de algo muito maior do que poderíamos fazer.
 

 
Coordenação Geral Flica 2011
Alan Lobo, Aurélio Schommer, Marcus Ferreira e Mirdad

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Resumo da mesa “Portugal, África e Brasil - Heranças e Afastamentos” - Germano Almeida e João Pereira Coutinho

foto: Vinícius Xavier

A última mesa da Flica contou com o português João Pereira Coutinho e o caboverdeano Germano Almeida, e foi mediada pelo angolano Camilo Afonso. Nesta mesa, foram discutidas as relações entre Portugal, Angola, Cabo Verde e Brasil, e as consequências históricas dessas relações.

João falou da Independência do Brasil e de como ela determinou tudo aquilo que aconteceu com Portugal nos dois séculos seguintes: “o país entrou em várias guerras civis e por fim, passou por uma ditadura”. Germano comenta que Cabo Verde, quando buscou se tornar independente de Portugal, tentou agregar-se ao território brasileiro. Depois disso, Brasil e Cabo Verde mantiveram uma relação distante e só voltaram a se aproximar nos últimos 20 anos.

Camilo Afonso explicou que o “segundo Brasil” foi criado em Angola, de onde vieram os escravos até o fim do tráfico negreiro. “Angola não poderia chorar pelos seus filhos, porque a maioria deles foi para o Brasil e lá morreu”, comentou o angolano. Camilo explicou que segundo Antônio Rego, esse homens ficaram no Brasil e se apaixonaram pelas “mulheres lindas do interior, e por isso não quiseram mais voltar”.

João disse que o impacto da Independência do Brasil não tem comparação com o impacto da Independência de Angola, pois no segundo caso, havia o apoio dos portugueses, e por isso a Independência Angolana não era vista como um trauma. “Quando falamos de Portugal, falamos de um país que sempre dependeu de outros para existir. O que será de Portugal se o projeto europeu falhar?”, questionou.

Germano comentou que Cabo Verde foi primeiramente ocupado pelos negros vindos da África para trabalhar nas lavouras e em um segundo momento, os brancos ocuparam o norte do país. Os jesuítas agiram de maneira inovadora ao promover no país a educação sem distinção de raça. “Somos de fato uma nação grandemente ilustrada. A única forma de subir na escala social é através da escola”, afirmou.

Camilo Afonso voltou a falar de Angola, dos angolanos que nunca voltaram do Brasil e da influência literária herdada da relação entre os dois países. Da Angola não saíram apenas as pessoas, mas os animais (como a galinha d’Angola) e elementos culturais, (como a Capoeira Angola).

Portugal, ao contrário do que se imagina, não é visto com rancor pelos angolanos: “Se tivéssemos rancor com os portugueses, não culparíamos o sistema pelos problemas”. Camilo explica que Angola nasceu em um momento em que dois mundos estavam em choque, a Guerra Fria, e que por isso os Estados Unidos demoraram muito tempo para reconhecer o país. Finalizou com uma pergunta: “que tipos de emendas ao nosso passado teremos que fazer para o bem comum?”.

Ubiratan Castro, que estava na plateia, pediu a palavra e disse que o Brasil não existiria sem Angola, e que o país nasceu aqui em Cachoeira, no dia 25 de junho. “Falamos a mesma língua de maneiras diferentes, que não podem ser domesticadas por um acordo ortográfico”, explicou o professor. Ressaltou ainda a importância da literatura da língua portuguesa, dizendo que os brasileiros leem pouco os autores portugueses. João completou dizendo que ninguém é dono da língua a ponto de determinar de que maneira ela deve ser falada: “a língua é produto da história de um povo. Não conheço ninguém que não consiga entender os textos em língua portuguesa escritos no Brasil ou em outros países”. Camilo finalizou, dizendo que a questão é que cada país saiba respeitar o acordo ortográfico em seu próprio contexto.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Escrachos, Escárnios e Pornografia - A Literatura Underground” - Reinaldo Moraes e Victor Mascarenhas

foto: Vinícius Xavier

Verborragia, risos e freiras indignadas foram as marcas da mesa mais esperada da Flica, com a participação de Victor Mascarenhas e Reinaldo Moraes, os auto-intitulados “prostitutos do gênero”.

Victor, logo de cara, comentou as semelhanças e diferenças entre dois gêneros literários já bem conhecidos, o conto e o romance: “o contista não tem coragem de encarar o romace”. Reinaldo complementou: “O poeta é o herói da linguagem, a poesia é uma academia de musculação para o romance”.

Victor reclamou que os editores utilizavam-se da desculpa da grafia correta do dicionário para corrigir as palavras que usava, e deu o exemplo da palavra “viado” (homossexual), que era substituída pela palavra “veado” (animal). Contou uma piada dita a ele por Jorge Portugal: “Está errado porque veado vive na mata, já o viado pode ser facilmente encontrado em perímetro urbano”.

Reinaldo comenta sobre seu livro, mencionando algumas histórias. Ele fala sobre trocadilhos dentro de um conto em que um homem xaveca uma senhora de 60 anos em troca daquilo que ela puder oferecer – que vai desde cigarros até um lugar para dormir. Nesse conto, as palavras “Veia” e “Véia” são postas por Reinaldo como motivo suficiente para mandar o Acordo Ortográfico (que retira o acento agudo de palavras terminadas em - eia, como “plateia”, “colmeia” etc) “para as cucuias”.

Reinaldo reclamou de Chico Buarque, com quem esteve em outra ocasião. Para o escritor baiano, Chico é educado demais, não fala um único palavrão e ainda faz milhares de mulheres lindas e jovens surgirem do nada.

Falando agora de romances, Reinaldo comentou a liberdade que se tem ao escolher o romance como formato: “Romance é de natureza aberta, apesar de você ter as unidades aristotélicas, ainda sobra muito espaço para incluir tudo”. Reinaldo escreve em primeira pessoa, e Victor perguntou se isso não fazia com que as pessoas achassem que seus romances eram autobiográficos. Histórias de Victor em uma casa de swing e Mario Prata em um conto erótico jamais publicado de Germano Almeida fizeram a plateia rir - e escandalizaram algumas freiras que estavam por ali.

Reinaldo explicou como é difícil fazer uma cena erótica, porque por um lado pode-se cair na vulgaridade, e por outro se corre o risco de “cair em uma sublimação babaca”. Falando de influências, Reinaldo é enfático: “Não tenho influências. Sou influenciado por mim mesmo”. Para o escritor, ser influenciado por alguém é você “imitar esse alguém”, necessariamente. Victor tinha outra visão do mesmo lado da moeda, e disse que as influências “são coisas do ranço academicista”, nem sempre ele acreditava naquilo que escrevia e tinha influência especial das histórias em quadrinhos.

Para Reinaldo, é absurdo obrigar um adolescente a ler os clássicos “chatíssimos” da literatura brasileira, como “O Guarani”, “Inocência”, e que isso pode fechar as portas para a leitura prazerosa. Reinaldo teve o interesse despertado pelos livros de Machado de Assis. Victor explica que sua formação literária foi bem bagunçada e que não seguiu nenhum roteiro acadêmico de literatura.

Victor falou de um de seus contos do livro Cafeína em que uma prostituta se vende por um cafezinho e consuma o negócio atrás de uma banca de revistas. Em certa ocasião, lhe perguntaram se o livro era autobiográfico, e o escritor não perdeu a piada: “Me perguntaram se eu tinha relações com putas e eu disse que não... EU era a puta”. Diante do estranhamento, Victor explicou: “Poxa, você nunca fez pequenas concessões para conseguir as coisas?”

A conversa é reconduzida para o conteúdo dos livros de Reinaldo, em especial um conto que fala de uma suruba exotérica, a Surubrâmane. Quando jovem na década de 70, Reinaldo viu o exoterismo virar moda. Victor aproveitou o gancho comentou o caráter espiritual da vida questionando se “O grande Arquiteto do Universo quer que vejamos a vida como um programa de milhagens”. A polêmica entrou também no universo religioso católico, quando Victor comentou o fato de Nossa Senhora ser uma mulher com muitos nomes diferentes, e uma imagem para cada um deles:“Vejo Nossa Senhora como uma franquia”.

Entrando no tema auto-ajuda, Victor fez piada: “A única forma de auto-ajuda com 100% de êxito é a masturbação. Funciona tão bem que mesmo que o cara não se ame de verdade, resolve”. Os autores finalizam a mesa explicando que o que fazem não é literatura erótica, e sim urbana. O erotismo em suas obras não tem a intenção de excitar, e sim de ironizar, de fazer rir.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Poesia Baiana e Contemporânea - Homenagem a Damário da Cruz” - José Inácio Vieira de Melo, João Vanderlei de Moraes Filho e Darlon Silva

foto: Vinícius Xavier

Lima Trindade mediou o encontro mais poético da Flica: José Inácio Vieira de Melo, João Vanderlei de Moraes Filho e Darlon Silva recitaram, discutiram e valorizaram a poesia baiana, em especial a poesia de Damário da Cruz, o grande poeta cachoeirano. Lima ressaltou a princípio que o principal objetivo da Flica era manter o que há de melhor em Cachoeira.

Moraes abriu as discussões falando sobre o processo de produção de poesia: “A gente vai maturando, construindo e desconstruindo. Cheguei a ouvir que não sou poeta”. João Moraes começou a quebrar barreiras em sua convivência com Damário da Cruz, misturando elementos visuais na poesia.

Darlon, o mais jovem participante da Flica, explica que se encantaria pela baianidade em qualquer parte e fala da vanguarda contemporânea da poesia, dizendo que ninguém tinha competência para dizer se estava produzindo algo novo ou não, e provocando uma discussão sobre a necessidade de se inovar na produção poética: “Para mim, poesia não tem que ser algo diferente, não precisa ser uma revolução”, defende. Moraes disse que não havia público para analisar o quesito contemporaneidade, e Lima disse que o contexto é que acaba produzindo a diferença, do contrário tudo é cópia.

Várias poesias de Damário foram recitadas por Moraes de maneira emocionada, sempre para ilustrar pontos da discussão e também durante o relato do surgimento do Caruru dos Sete Poetas. O Caruru surgiu da tradição do Caruru dos Sete Meninos, idealizado por Damário para trazer a poesia para perto das pessoas. “Damário dizia que a poesia é a melhor maneira de juntar gente, e a bacia dos Sete Meninos é a representação mais próxima do Socialismo”, conta Moraes. O poeta ainda disse que há um projeto chamado Caruru dos Sete Cantos do Mundo, em que a tradição poética do Caruru dos Sete Poetas é levada primeiramente para a cidade de Cartagena, que considera uma cidade semelhante à Cachoeira do ponto de vista histórico. Esse projeto visa tornar a cidade colombiana irmã da cidade heróica através da cultura.
 
Darlon alfinetou dizendo que no Recôncavo há aqueles que fazem poesia e os que fabricam poesia, e que enquanto poesia, “o recôncavo é magia”. A discussão mudou, então, de rumo para as políticas governamentais para a cultura, em especial a responsabilidade do governo para com a regulação cultural. Para Moraes, cabe ao estado regular essa cultura, porque faz parte de um mercado cultural. “Não há um plano de leitura na Bahia, e a política de leitura é afetada pelo mercado editorial, no qual o estado influencia”.
 
A discussão entra então na temática da qualidade e quantidade de produções poéticas. Josá Inácio explica que, com a internet, a possibilidade de ter um blog fez com que a quantidade de poetas aumentasse bastante. “O que tem de repetidor de Manoel de Barros nos blogs é incrível”, brinca. Quanto à qualidade, Zé Inácio disse que mesmo quem não escreve é capaz de detectar produções boas e ruins e o tempo se encarregaria de mostrar quem cresceria na poesia: “A força do poema permanece quando o autor parte”. A crítica, segundo o poeta, é feita na base do “cumpadrismo”, são amigos que criticam amigos.
 
Darlon já foi blogueiro e contou que não gostou da experiência. Parou de produzir na internet porque achou que tinha muitas produções melhores. “Quem é que vai querer ler meus vômitos na internet?”, questiona o jovem poeta.
 
A platéia participa e comenta a poesia baiana como sendo romântica e em parte, matemática, e animou a discussão e Moraes rebateu dizendo que não via romantismo na poesia baiana. Da platéia também vieram reações, dizendo que João Cabral de Melo Neto “não rimou dois com três. Se a poesia dele é matemática, deveria ser escrita com números”. Darlon complementou dizendo que poesia é toda feita com base nos sentimentos: “A lógica não explica o que eu sinto quando estou de frente ao mar”.

A mesa se encerra com um pequeno recital de poesias feito pelos autores, com poesias de Damário da Cruz e Patativa do Assaré.

Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Linguagens e Geografias” - Pedro Mexia e Hélio Pólvora

foto: Vinicius Xavier


O editor Rosel Soares abriu a participação de Pedro Mexia e Hélio Pólvora na Flica 2011, para falar das relações dos escritores com suas terras natais e seus países e da união que a literatura é capaz de produzir.

Hélio explicou que a literatura é capaz de fazer pontes entre pessoas de lugares distantes no mundo, falando do livro como um tapete mágico que emociona pessoas de culturas diferentes: "Eu não conheço arma melhor do que a literatura para criar essa comunhão de pessoas".

Provocado por Rosel, Hélio contou de sua relação com o passado e fez recomendações para que as pessoas deixassem a vida seguir seu curso, que não voltassem atrás do tempo perdido. "As pessoas não estão mais onde nós as pomos, e nós não somos mais quem elas conheceram", explica.

De maneira risonha, Hélio fala sobre a idade e sobre os efeitos do tempo: “Estou naquela fase da vida em que o tempo é muito precioso. Vejo os grãozinhos caindo da ampulheta, e estão caindo muito rápido!” Rosel então lembra a Hélio de que ambos fizeram um pacto em que o editor daria mais dez anos de vida ao escritor, com a condição de que ele usasse esse tempo para escrever livros, a que atendeu escrevendo três obras.

Sobre o período que viveu em Portugal, Hélio contou que sua relação literária com o país começou em casa, lendo os livros do pai e amadureceu quando leu livros de José Saramago, autor pelo qual se sentiu bastante influenciado.

A maioria dos escritores portugueses tem uma relação conflituosa com sua família e seu país, mas mesmo assim a literatura é uma coisa tão importante que o dia nacional de Portugal "não por acaso é o dia de Camões", explicou Pedro Mexia. O autor é um homem à moda da literatura mais antiga, e sua geração viveu um momento único: foi a última a conviver com um país católico, a viver sem tecnologia. Pedro disse que no fundo, o que os mais velhos e os mais novos viveram não tem nada a ver com ele.

Falando sobre o Brasil, Pedro explicou que para os portugueses o país é um sucesso de crítica pela sensualidade e erotismo, muito diferentes do modo português. Antes, o Brasil literário era reduzido a um país rural, e a partir dos anos 80 o Brasil urbano foi descoberto. “A ficção brasileira atual é boa e muito melhor que a portuguesa. Já a poesia portuguesa é muito forte”, comparou o português.

Os autores discutiram as questões essenciais da literatura, dizendo que algumas pessoas trocam o “quem sou eu” pelo “onde estou”, especialmente no caso da tecnologia e das redes sociais. Pedro não acredita que a tecnologia muda as pessoas, mas está mudando a velocidade e quantidade de coisas que se produz a respeito delas: “O que a mídia escreveu sobre Steve Jobs nos últimos dias nunca foi escrito sobre Jesus Cristo!”

Perguntas surgem da plateia a respeito de Paulo Coelho: por que ele é tão lido? Como é tão popular? Pedro disse que não leu, mas Hélio explica que isso se deve ao fato do momento de insegurança que o mundo vive. “Aqui no Brasil somos campeões de homicídios, e hoje somos virtuais prisioneiros, somos prisioneiros domiciliares” explica o baiano, que só não escreve livros de auto-ajuda porque acredita que a ficção as ajuda mais a mostrar a realidade das pessoas.


Rosel e Hélio encerram falando das expectativas de melhora da leitura na Bahia com a chegada da Flica. “É verdade que na Bahia ninguém lê, e é por isso que vamos abrir uma editora. Precisamos trocar o abadá pelo livro!”, diz Rosel.

Aline Cavalcante

Resumo da mesa “O Fetiche do Livro em Papel e o Meio Digital” – Bob Stein, André Lemos e Fábio Fernandes

foto: Vinícius Xavier

O estadunidense Bob Stein discutiu com o brasileiro Fábio Fernandes a grande questão da literatura em meio digital, com a curadoria específica de André Lemos.

As mídias foram mudadas pelas redes sociais de modo a aumentar a necessidade de se compartilhar coisas com os amigos e o mundo. E por que não vender livros nesse universo? A grande questão discutida, a princípio, é o suporte material para o conteúdo produzido pelos autores e a maneira de remunerar essas pessoas por uma coisa transmitida de pessoa para pessoa digitalmente. “O livro é um dispositivo híbrido e mutante, que foi mudando a materialidade com o passar dos anos”, explicou André Lemos.

Esse dispositivo passa hoje por três mudanças fundamentais: a revolução do suporte material, que produzem maneiras diferentes de ler; a distribuição, que deve ser feita pensando nas novas maneiras de ler e a maneira de escrever, pensando nos novos suportes e nas novas maneiras de ler.

Fábio Fernandes explicou que o livro é um conceito, e que produzir backups não é um hábito recente, já que mesmo a biblioteca de Alexandria fazia cópias e as mandava para Pérgamo. “Talves estejamos enfrentando um conceito de materialidade que nunca havíamos enfrentando antes”, explica. Trata-se de suportes que podem ser frágeis, mas que não mudam em nada a existência do conteúdo, que pode ser mantido digitalmente na internet ou em drivers.

Apesar disso, nenhum dos autores acredita no desaparecimento do livro impresso. Para eles, o real problema deveria ser o “ler ou não ler”. Fábio explica que só agora o Brasil acordou para os livros digitais e que há muito os blogs e outros suportes são os lugares onde mais os jovens escrevem. “A minha geração não escrevia tanto quanto esta”, relata.

Bob Stein afirmou que a questão do livro digital é mais profunda, está relacionada ao futuro da sociedade humana, e que o medo dessa mudança na verdade é medo do próprio futuro. Com o tempo, a ideia de que os livros são coisas fixas e imutáveis vai sumir. “O ser humano demora muito a entender que é possível se adaptar às novas formas”, explicou.

André explicou que o que importa para os autores, no fundo, é que os livros gerem uma trajetória, que sejam “copiosos” (que gerem cópias). “Sem isso, os livros morrem nos HDs”, ilustra. O autor conta que gosta da possibilidade de carregar milhares de livros que não pesam nada, mas detesta a interatividade que esses livros possivelmente têm.

Ao tratar de direitos autorais e meios de remuneração, Bob comentou a situação dos músicos que não ganham dinheiro pela vendagem das músicas, e sim pelos shows. Disse que o mesmo é aplicável no caso dos autores de livros, que ganhariam pela ida aos eventos literários e pelo “pagar para engajar”, que trata-se de pagar para obter um livro contextualizado por explicações e imagens. Quanto à distribuição, Bob disse que uma nova maneira teria que ser inventada com o tempo.

A qualidade das produções on line também entrou em pauta, e os autores deixaram claro que a qualidade não tem, necessariamente, relação com o formato e-book. Pode-se produzir bem nesse formato, embora no caso do livro impresso as editoras funcionem como filtro de qualidade. No caso dos Blogs, André explicou que é um work in progress (tranalho em curso) que podem ser publicados como artigos on line depois de serem revisados.

No quesito relação autor-leitor, Bob apontou uma mudança importante: “Eles se relacionam em uma espécie de hierarquia, que é horizontalizada no meio on line. Essa relação está mudando dramaticamente, e isso vai acontecer nas próximas duas décadas”.

Segundo André, os blogs também funcionam como filtros de compra de livros, através da crítica literária por meio de resenhas. Bob finaliza dizendo que a editoras são “importantes para o capitalismo é muito grande, elas treinam as pessoas para viver sob o capitalismo”.
 

Aline Cavalcante

Resumo da mesa “O Romance e a Grande Literatura” - Carlos Barbosa, Jorge Araújo e Mayrant Gallo

foto: Vinícius Xavier


Mayrant Gallo, Carlos Barbosa e Jorge Araújo falaram da grande literatura, da produção e leitura de romances e conceitos, sob a mediação de Aurélio Schommer (substituindo Vagner Fernandes, que não pôde vir).

Literatura é liberdade, e essa liberdade se expressa de diversas formas. Mayrant começa falando de Machado de Assis e a dualidade de Capitu, que são exemplos da liberdade que se tem na prática literária. Mayrant explica que Capitu é constantemente comparada com o mar, uma coisa que não se pode conter ou controlar, que vai e vem, e que isso é uma grande pista sobre se ela traiu ou não Bentinho. Por fim, a plateia se manifestou dizendo que o mais importante de Dom Casmurro é a dúvida, não a solução do mistério.

Carlos começou falando sobre o significado da literatura em sua vida: “A literatura para mim é um aprendizado de vida. Ela entrou de maneira natural”. Para o poeta e romancista, o livro é um ímã. Sua formação veio antes da literatura que da prática. Aos onze anos Carlos já tinha lido todos os livros de Jorge Amado.

Mayrant é professor, e explicou que nessa função fica em segundo plano quando está escrevendo, assim com escritor fica de fora quando está lecionando. “Primeiro eu leio com as turmas, para então teorizar sobre literatura”.

Há escritores que produzem em grande velocidade, seja pela pressão da editora ou por um fluxo criativo repentino. Para Jorge Araújo, um processo muito elaboracionista pode desconstruir a espontaneidade. “Não adianta adotar a atitude de adoração da inspiração, que é uma deusa. Você está dotando e convivendo com outros mundos”, explica. Essa convivência com outros mundos durante as madrugadas fez com que Jorge criasse pavor por uma de suas personagens.

Machado de Assis voltou à pauta: qual seria a melhor obra do autor? Jorge explica que isso varia de acordo com o momento do leitor, mas que o momento em que Machado escreveu Memórias Póstumas de Brás Cubas torna este o melhor livro, na sua opinião.

Mayrant comentou que Dom Casmurro é um romance de leitura veloz, e isso o torna atraente. A velocidade seria, então, um entrave à qualidade? Quinze anos demorou Mayrant para escrever um livro, mas em outro momento demorou quinze dias. Carlos explica que nenhum escritor começa uma obra do zero, geralmente é uma história maturada.

A inspiração foi discutida por todos na mesa sob diversos prismas, sendo o da psicografia o mais polêmico. Aurélio Schommer comentou que é cético em relação a contatos do além, mas há momentos em que os romances vêm de um jeito que parecem terem sido psicografados.

Sob influência de uma inspiração súbita, Carlos mudou certa vez o final de um conto já acabado, em que o autor já sabia que mataria uma personagem. A nova inspiração fez com que a maneira dessa personagem morrer mudasse completamente, de modo que para ele o controle sobre aquele romance e todos os outros nunca é total.

“Às vezes a inspiração sobrenatural acontece de uma maneira tal que os dedos não acompanham os pensamentos e a ideia foge”, relatou Mayrant, que às vezes vai dormir pensando em algo e acorda com a ideia pronta.

Para Carlos, há também outras influências sobre o processo criativo atual, como a redação jornalística, que torna o texto mais simples. A pressão exercida pelos prazos das editoras é um ponto ruim porque não acompanha nem respeita o tempo de criação. “O narrador dentro de mim se atrasou porque estava andando em uma estrada acidentada. Quando ele finalmente chegou, narrou tudo em dois ou três dias e eu pude relaxar”, contou.

A redação de vestibular foi discutida pelos autores como sendo uma boa maneira de exercitar o pensamento do jovem, e assim fazê-lo atender as demandas de mercado, embora a ditadura da mídia, segundo Jorge, deva ser driblada. “A formalidade da literatura produz um desgostar que afasta as pessoas”, explicou.

“Obrigar alguém a escrever é bom?” Perguntou Aurélio. “Obrigar alguém a pensar é bom?” Retrucou Jorge. “Sem ler você só definha, sem ler você não é nada”, enfatizou. Para ele o Brasil e o mundo estão sofrendo uma “desertificação de ideias”. Mayrant comentou que a moda é um gosto de passagem, mesmo para os best sellers: “o que fica é o livro consistente”.

Quanto à técnica, “o romance é um texto sem forma”, explicou Mayrant. O que se vê hoje, segundo o professor, são novelas, que estão entre o conto e o romance. Os folhetins são formatos vinculados ao prazo, e por isso sua qualidade cairia um pouco. A liberdade que cabe no romance faz com que Carlos se sinta à vontade para fazer história, psicologia, antropologia e outras coisas dentro do texto.

A influência da academia na escrita entrou em pauta, e Carlos leu um texto para ilustrar o quanto a teorização pode limitar a capacidade criativa. Escolher o gênero não é tão importante quanto a inspiração. “Quando me vem uma ideia, não sei no que vai dar. Pode virar um conto, um poema ou um romance”, explica.

O mercado editorial, segundo Jorge, tem na atualidade a tendência de fazer do leitor um canal de recepção do produto. “parece que a livraria virou cemitério de livros, quando na escola a professora usa a biblioteca como castigo”. Os autores finalizaram defendendo que ler é um compromisso de cada um, as pessoas se tornam melhores quando leem.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Contexto Racial nas Américas” - Nei Lopes, Rodrigo Constantino e Liv Sovik

foto: Vinícius Xavier


Nei Lopes, Liv Sovik e Rodrigo Constantino discutiram os mitos da criação das Américas, mitos raciais e outras analogias entre seus países mais populosos, com mediação de Aurélio Schommer.

O mito de Pocachontas fala de uma índia Matoaka que se apaixonou por um inglês. Do casamento deles nascem os Estados Unidos, e dele descendem os estadunidenses. Liv Sovik explicou que esse é um mito de criação e convivência pacífica lembrado atualmente apenas pelas crianças nas escolas e por ocasião do famoso Dia de Ação de Graças (Thanksgiving).

Semelhante a este mito é a história de Diogo Álvares, português, que se casou com a índia Guiabimpará, que posteriormente recebeu o nome de Catarina Paraguaçu, que colaborou com a colonização do Brasil e com o surgimento do país.

Em nenhum dos dois mitos existe a figura do africano, “os ancestrais esquecidos” na fada de Nei Lopes. Enquanto houve escravidão, explicou Nei, 75% dos escravos trazidos para o Brasil eram da etnia Banto.

Schommer destacou que a colonização inglesa foi diferente da portuguesa no quesito miscigenação, pois eles não tiveram a mesma tendência de se miscigenar que os portugueses tinham. Rodrigo enfatizou que os ingleses segregavam os povos locais em todos os lugares que ocupavam. “Para mim é impossível ignorar a mestiçagem, eu a vejo em todo lugar e em todas as pessoas”, complementou.

Nei comentou a realidade de Machado de Assis em sua época e em seus livros. Machado era negro, descendente de escravos, e em sua obra criou personagens que possuíam escravos. Segundo Nei, isso faz com que os militantes abolicionistas não tenham simpatia pelo romancista, mas ressaltou que Machado apenas tinha a opção de não ser militante e assumiu essa postura. Liv disse que não era possível que Machado não soubesse a realidade de sua profissão e de sua raça.

Para Liv, é muito importante definir o que torna uma pessoa racista ou não, para que não se chegue a um beco sem saída. Segundo a estrangeira, é preciso prestar atenção no racismo decorrente da ocupação do “mundo novo”, em especial no Brasil. “Sou uma branca que tem consciência do racismo e que presta atenção nas situações”, contou.

Ao comentar a música “O Teu Cabelo Não Nega”, Rodrigo explicou que muita coisa se perde no crivo do politicamente correto, inclusive as coisas boas que importamos de outros países. “Quantas obras de literatura não teriam sido perdidas por conta desse crivo?”, questionou.

O capitalismo, segundo Rodrigo, é a maior força anti-racista que existe, por ser um sistema impessoal que prima pelo produto, não pela pessoa por trás dele. Liv questionou Rodrigo sobre quantos negros teriam capital para abrir uma quitanda a hora que quisessem e ressaltou que era importante pensar na história do capitalismo para chegar a qualquer conclusão. “Muita inteligência foi desperdiçada pelo racismo”, lamentou.

Os autores discutiram as lutas legais contra o racismo, em especial a de Antônio Rebouças, que foi deputado do Império e lutou, usando textos de leis estadunidenses, para que afrodescendentes das forças armadas pudessem chegar ao oficialato, dentre outras lutas contra a discriminação racial.

Soluções para a questão do racismo, como as políticas afirmativas, o sistema de cotas e comportamentos de afirmação racial entraram em pauta, e a polêmica da noite começou.

Rodrigo disse que não gostava de quando as pessoas se utilizavam de frases emblemáticas como “primeiro negro” ou “primeira mulher” e que não acha que a entrada na universidade por uma questão de raça vá melhorar o país, pois as cotas geram mais preconceito. “É importante falar daquilo que não se vê: um homem de pele clara que não entrou na universidade por conta das cotas. Sou a favor de que se entre na universidade pelo mérito”, afirmou Rodrigo. Liv retrucou: “As cotas são importantes para as pessoas que ficam sujeitas à violência e às dificuldades das cidades”. Para ela, essas políticas afirmativas irão em breve criar uma nova elite.

Discutiu-se a questão da culpa social pelas consequências da escravidão e do racismo. De um lado, Liv defendeu que o racismo é um problema de todos nós, “precisamos enfrenta-lo sem culpa”. De outro, Rodrigo disse que não poderia se sentir culpado por uma escravidão com a qual não contribuiu e nem teve a família envolvida.

Schommer mencionou uma pesquisada UnB, que diz que 86% dos brasileiros têm DNA negro. Mencionando uma lei sul-africana de 1950 que institui o registro das pessoas de acordo com a cor, Rodrigo disse, exaltado, que é da raça humana, que sonha com um mundo que não dê importância para as cores de ninguém. Liv lamenta: “os únicos que se dão o luxo de esquecer das questões de raça são os brancos”.

Liv disse ainda que Martin Luther King nasceu no país errado, que a tensão racial nos EUA é hoje menor que antes, mas ainda a considera muito alta. Em alguns lugares, a tensão racial da classe média é imensa. “Sem a política de cotas corremos o risco de esquecer para quê esse tipo de coisa existe”, defende.

Rodrigo encerrou sua participação dizendo que as pessoas lutam com as melhores intenções, embora usem as ferramentas erradas, e que espera que isso melhore.

Liv sugeriu que se substitua a palavra “mestiçagem” pelo conhecimento das negociações raciais de colonização.

Nei conta que na infância já discutia a exclusão social e por isso era acusado de ser portador de um desvio ideológico. “O importante é que todos tenham oportunidades. O negro não tem que estudar mais só para ser melhor que o branco”, finalizou.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Letras e Tretas: O Samba na Realidade e na Ficção de Nei Lopes”

foto: Vinícius Xavier

Nei Lopes fez um rico relato de sua vida pessoal e literária na companhia de Aurélio Schommer.

A marginalização do negro e do pobre era constante no Rio de Janeiro da juventude de Nei Lopes, e não era diferente com os artistas: chamados sempre por apelidos e perseguidos pela polícia, a mídia os representava quase sempre como criminosos. Branco era gente de “pouca tinta”.

Do contato com a música veio a vontade de sair nas escolas de Samba, e naquela época só as mulheres saíam fantasiadas. Homens vestiam terno e gravata, desde crianças. Nei conta que a paixão pela Portela era tão grande que chegou ao cúmulo de vestir um terno enfeitado para a sua primeira comunhão. E a paixão não parou por aí.

“Comecei a participar da escola de samba no mesmo ano em que comecei a estudar direito, então me sagrei acadêmico duplamente”, contou Nei. Inspirado na realidade das escolas de samba, Nei começou a escrever ficção.

No Rio de Janeiro, Salvador era chamada de “Mulata Velha” dentro de um bairro que servia de reduto para os baianos, chamado Cidade nova. Nei criou uma Tia Ciata baseada na baiana para um livro que se chamou Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova. Segundo o advogado, o livro quase não foi publicado com esse por preconceito religioso, por causa do termo “Mandingas”.

Explicando a origem do samba, Nei explicou que há quem diga que foram os tupis guaranis que o criaram, mas refuta a hipótese com facilidade: “Não tem nada a ver, índios dançam em linha!”. Falou da dança angolana e sua sensualidade inerente: “o que a gente vê hoje na ‘boquinha da garrafa’ é sacro perto da dança angolana”. O semba é uma dança angolana mais respeitosa, feita em casais, e se assemelha com o samba.

Sobre o pagode, Nei explicou que o termo está presente na literatura desde o século XIX. Pode ser um termo indiano que significa “muito” (ex: feio de pagode = muito feio). “O samba de pagode então seria um samba cheio de gente”, explicou.

A indústria cultural, segundo o romancista, descobriu que a palavra “pagode” tinha muita força e que merecia uma característica própria, mais ligada ao pop. “O pagode da grande mídia destaca valores comerciais de amor, sexo e pegação”.

Coisa que chateia o sambista é o fato de o samba, uma música popular, ter ganhado ares de cult com o tempo. A pretexto da preservação, algumas pessoas só cantam sambas dos anos 30. Até o tombamento do samba tem que ser visto com cuidado, porque engessa o gênero. O samba vive hoje uma universalização, em que a melodia é a mesma e só as letras mudam.

Para ele, tudo o que é exagerado fica ruim. “Um tempo desses eu fui apresentar o É o Tchan!, aquilo era samba de roda! O duplo sentido sempre esteve presente no samba de roda baiano, mas era um duplo sentido inteligente”, explicou. A suposta malícia da dança vem em parte do ritual de fertilidade, “mas existe uma sacanagenzinha”.

As danças dos negros são todas batuques, e o samba é uma dança negra, mas o carnaval dificilmente tem um samba-enredo que fale das africanidades.

Sobre as festas baianas, Nei critica: “Comercializar ou banalizar uma religião não é uma coisa boa, é uma exposição desnecessária. Espetacularizar a religiosidade é algo de que não gosto, nem os Orixás gostam”. O sambista se queixou também da queda brusca da qualidade do funk carioca, e disse que o axé é muito melhor. Sobre o carnaval, comentou que a verdadeira festa européia pode ser vista na África, e não no Rio.

Nei finaliza: “Branco se vestir de preto e preto se vestir de branco: isso é o verdadeiro carnaval”.
 

Aline Cavalcante

Resumo da mesa “História e Negritude” - Joel Rufino dos Santos, Ana Maria Gonçalves e Luislinda Valois

foto: Vinícius Xavier

Na sexta 14/10, pela manhã, Luislinda Valois, Ana Maria Gonçalves e Joel Rufino dos Santos discutiram a negritude sob diversos aspectos históricos nacionais e internacionais, com a mediação de Márcio Meirelles.

Luislinda pediu permissão à grande Iansã para começar e falou da situação das mulheres e homens negros no Brasil, dizendo que a mulher negra eram levadas pelos brancos para as festas para dançar e os homens negros para batucar. A magistrada assegurou que com ela isso não acontece: "A mim não comandam mais, porque sou uma mulher brasileira, negra, magistrada e divorciada!"

Ela explicou que o negro que ainda almeja ser tratado como uma coisa, se tornará uma coisa aos olhos dos outros e que disse que não quer morrer sem ver muitos negros em posições de comando no Brasil: quer ver um negro governar a Bahia, ser presidente da República. "Meu sonho e ser a presidente deste pais", revelou.

Segundo a magistrada, a educação continuada é uma necessidade diante do mundo globalizado. Ela pediu que os pais prestem atenção em um detalhe relativo ao ajuste da educação em relação a idade, usando como exemplo duas crianças da mesma idade cuja data de nascimento tem a diferença de um dia. Um dia a mais pode fazer com que a criança vá para a série seguinte, enquanto um dia a menos pode fazer com que a a criança seja colocada na série anterior. "Isso é desmoralizante para a educação desse país", desabafou.

A necessidade de ter mais negros na área de saúde foi reforçada por Luislinda. Ela explicou que o negro é quem sabe das doenças e dos sofrimentos que tem. Falou também da situação do negro no esporte brasileiro, da sua ausência em esportes como tênis e o automobilismo, e da ideologia que envolve o negro no futebol, onde se espera que sejam os melhores.

Em se tratando de trabalho, a primeira magistrada negra do Brasil foi categórica: para o negro tudo é uma questão de casca, e as cascas tem tudo. Mas nós negros temos as costas, para as chibatadas. Todos nós negros tomamos chibatadas todos os dias só que nos não percebemos". Explicou que a mulher negra arranja empregos de prostituta ou de empregada doméstica, e que para que isso acabe é preciso que haja luta, que os negros conquistes outros espaços que não sejam o de execução e de apoio.

A plateia mandou uma pergunta sobre a questão dos jogadores africanos da seleção francesa de futebol, dizendo que eles não cantam a Marselhesa (hino da França), a que Luislinda respondeu dizendo que os jogadores brasileiros também não cantam o Hino Nacional Brasileiro, eles "só mexem a boca".

Ana Maria entra na discussão explicando que os jogadores não são aceitos como franceses, por isso não têm a cidadania do país. "Basta olhar para as manifestações a respeito das migrações. Eles não são aceitos como cidadãos", explica.

Joel retoma a questão do negro no poder, falando que o fato de o Brasil não ter generais e grandes políticos negros deveria ser contabilizado como "ataque". Segundo ele, a cidade de São Paulo lutou para ter um prefeito negro, que era malufista, e isso não deu certo (Celso Pitta acabou envolvido com diversos escândalos de corrupção). Deu também o exemplo do presidente estadunidense Barack Obama, que não conseguiu fazer a maioria das coisas a que se propôs. "Querer negros no poder e bom, mas precisamos ter cuidado. O negro que se mistura com o branco porque costuma se dar mal", explicou.

Luislinda interveio dizendo que se o poder é bom, ela quer estar nele e que não se deve ficar sentado rezando e esperando uma oportunidade de se chegar ao poder aparecer sozinha. Disse que trabalha em prol das minorias para que haja uma democracia melhor. Explicou que o problema dos casos de racismo se deve ao fato de não haver juízes negros para julgá-los. Os juízes brancos não têm interesse em se especializar nessa área e as penas acabam assim sendo abrandadas.

Segundo a juiza, a situação do negro do mundo é tão grave que a ONU (Organização das Nações Unidas) precisou criar o Ano Internacional do Afrodescentente. "Não temos empregos, e os que as mulheres negras arranjam tem que ser de prostituta ou de empregada doméstica. Somos assediadas constantemente", desabafa. A adoção de crianças também é um problema, pois a maioria das crianças negras não é adotada porque a preferência costuma ser por crianças recém-nascidas, loiras e de olhos claros. "Precisamos de políticas que ajudem as mulheres negras a terem a quantidade de filhos que puderem ter. A mulher negra não é fábrica de gente", ressalta.

Há pouco tempo, os negros tinham vergonha de assumir sua religiosidade, e a polícia criava mecanismos para controlar essas manifestações. Era preciso se registrar e pagar taxas para exercer essa religiosidade, com horários controlados.

Márcio pede que Joel explique melhor a negação de que fala Jean Paul Sartre ao definir a negritude: "negação da negação do homem negro". Joel explica que a frase de Sartre tem que levar em consideração que o tempo passou, e que esse tempo relativiza as coisas. Ele comenta a indianidade do negro, em que o negro que descende de índios pode se auto-intitular índio e favorecer a democracia, já que os índios são os verdadeiros donos do Brasil. "O negro de hoje não é só africano, é índio também", completa.

Joel diz que o negro é uma grande contradição histórica, pois se chega o poder, sofre a influência do branco. Luislinda complementa que isso acontece para que o negro possa sobreviver.

Diante de uma pergunta da plateia sobre a necessidade do negro assumir o poder para diminuir opressões, Joel comenta o sistema de cotas sob dois aspectos: o ruim, que expõe o negro, e a bom, que é a melhoria da democracia. Para ele, o racismo não vem sozinho, vem com o exercício do poder. Joel defende que existem duas coisas diferentes, que são o racismo e o racialismo. O racismo vem com o poder e a negação do negro, enquanto o racialismo vem do reconhecimento do "ser negro", quando o negro assume e luta pela sua identidade.

Ana Maria aproveitou para explicar que a negritude existe devido a uma normatização da branquitude, a partir da qual dizemos quem não é branco. "Não se pensa no branco como uma raça, mas como um padrão em que os diferentes são inferiores", explica. A escritora discorda da ideia defendida por Leandro Narloch de que o negro ensinou o português a traficar escravos, mencionando a escravidão da antiguidade como exemplo de fonte que pode ter inspirado essa prática. Explicou que a escravidão praticada pelos africanos era diferente daquela feita no Brasil, pois a maneira como os escravos eram obtidos e tratados era diferente: "na maioria das regiões, eles eram agregados domésticos. A escravidão que teve aqui no Brasil foi a primeira a ter o limite da cor. Apenas negros poderiam ser escravizados".

A escritora criticou duramente o senador Demóstenes Torres por ter dito que a escravidão no Brasil tinha sido democrática, pois todos poderiam ter escravos. Disse que isso não era verdade principalmente pelo fato de os negros não poderem escravizar os brancos. Até 1985, a legislação brasileira dava preferência para imigrantes europeus com o objetivo de embranquecer o Brasil. As políticas de branqueamento de cem anos atrás tinham a intenção de extinguir os negros na população atual.

O caso do Machado de Assis "branco" na propaganda da Caixa Econômica Federal veio à tona, causando uma discussão acalorada. Ana Maria explicou que houve pesquisa para fazer a propaganda, e que o ator foi selecionado por ter feições parecidas, tendo apenas recebido uma maquiagem "negra". "Esses publicitários não confiam na capacidade de um ator negro representar Machado?", questionou.

A plateia pergunta se a situação do negro não está mais vinculada à pobreza do que à cor, a que os autores respondem dizendo que ambos os fatores caminham juntos, e necessitam de soluções adaptadas e muita luta. Luislinda ressaltou que as cotas são necessárias, mas não ad eternum, "senão vira esmola e nós não precisamos disso". Ana diz que acha que o negro rico não sofre menos preconceito do que o negro pobre, e exemplifica com a situação de alguns jogadores brasileiros no exterior, que são confrontados com bananas.

Joel concorda com as autoras e comenta: "A sociedade e feita de lugares, e negro e um LUGAR, não e uma raca, o que já esta demonstrado". Ele discorre sobre as diversas coordenadas desse lugar: a pele escura, o cabelo "carapinhado", a pobreza, os hábitos da cultura negra e o gostar da cultura negra, que tornaria qualquer pessoa, independente da sua cor, um negro. "Isso tudo parece ruim, mas ajuda o negro a conquistar espaços. Se essas pessoas ocuparem esses espacos e assumirem essa luta, a democracia se fortalece.

A plateia pergunta qual a diferença entre ser escravo e escravizado, e Joel explica dizendo que você pode escravizar, mas tornar alguém um escravo e muito mais difícil. "O tom de vítima não faz bem ao negro na atualidade, o estigma de escravo não lhe cabe, cabe o de escravizado", finaliza.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “História do Brasil: o Despertar do Interesse Público” - Leandro Narloch e Aurélio Schommer

foto: Vinícius Xavier

Leandro Narloch é um jovem jornalista paranaense que vendeu mais de 100 mil cópias do seu Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, fazendo com que a realidade do interesse do publico pela história mudasse, tudo porque em vez de reforçar a ideia dos nossos vários heróis históricos, ele os desconstruiu. Ao lado de Aurélio Schommer, Narloch discutiu esse processo.

Professores ranzinzas contavam coisas negativas e cruéis da história, observando-a sempre da dicotomia fraco-forte, pobre-rico. “O historiador tinha uma ideia de que os países ricos exploravam os países pobres e tentavam empurrar isso na história”, comentou Narloch sobre as causas do surgimento desse novo modo de fazer história, começado por Eduardo Bueno e Laurentino Gomes.

Os historiadores tiravam conclusões a partir de provas documentais, sem levar em conta suas próprias ideologias. Os jornalistas são os primeiros a perceber as divergências na história.

Narcloch desconstruiu a ideia de que o negro e o índio são fracos, dizendo que ouviu dizer que os portugueses aprenderam a contar com os negros. A historiografia anterior, em vez de defender essas etnias, as atrapalhava e desprotegia. “Eles esqueciam de que [essas etnias] são inteligentes e capazes de reagir e se revoltar”, reclamou.

Segundo Narloch, o negro e o índio só tinham duas opções: apanhar calados ou morrer como mártires. Esse tipo de ideologia de que o antepassado só sofria e apanhava é ruim para o processo de formação social do negro. “Tá na hora da gente amadurecer e entender que a realidade não é feita só de bonzinhos e malvados, esse são conceitos relativos”, ressaltou.

Outra desconstrução foi feita em relação aos jesuítas e seu trato com os índios. Narloch explicou que os jesuítas protegiam os índios da escravidão, mas eles mesmos os submetiam a outra. Os índios também lutavam entre si não só por causa dos portugueses, mas pela guerra. Lutavam também por dinheiro, como no caso dos índios tapuias que desbravaram o sertão, a quem a Câmara de Itaberaba teve que pagar. Os índios tupinambás que saíram da Amazônia e tomaram Olivença são outros que desmistificam a ideia do índio fraco.

O mesmo valeu para a América Espanhola. “Já não se defende que de um lado estejam os espanhóis poderosos e dominadores e de outros estejam os índios fracos e dominados”, explicou Narloch. Alguns índios se aproveitavam do poder de fogo dos espanhóis para atacar outros índios. As armas de fogo dos espanhóis eram ruins e demoravam para ser recarregadas. Somado a isso, as doenças e a força dos índios mataram muitos espanhóis no contato com a América.

O capitalismo é outra questão desmistificada. Para Narloch, o capitalismo real não existe no Brasil, porque não existem condições reais de competição mercadológica. “O capitalismo é ruim pra quem é rico, porque antes essas pessoas só precisavam ter nome para serem ricas”. Por causa do capitalismo, tornou-se necessário oferecer bons produtos ao menor preço e encarar a competição - e antes era tudo uma questão de nobreza.

A última desconstrução da noite foi sobre Gregório de Matos Guerra. Leandro afirmou que Gregório é moralista, justamente pelo vigiar do erotismo.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “A Cidade como Personagem: Cachoeira em ‘Um Defeito de Cor’” – Ana Maria Gonçalves

foto: Vinícius Xavier

A escritora mineira Ana Maria Gonçalves contou a sua jornada de pesquisas e viagens durante a produção da obra Um Defeito de Cor, em que resgata a história dos africanos na Bahia e da religiosidade, em especial a Jeje, acompanhada do curador Aurélio Schommer.

As estantes da mãe eram o desafio para a menina Ana, que perdeu o interesse pela literatura infantil muito cedo. Herdara o interesse pela leitura da mãe, que tinha muitos livros e era uma leitora voraz. Para melhor controlar o conteúdo que Ana lia, a mãe organizou a estante de modo que a menina alcançasse apenas aquilo que tinha idade para ler.

Seu primeiro livro adulto, “roubado” do alto da estante em um momento de distração da mãe, foi o livro Capitães de Areia, de Jorge Amado, através do qual ela conheceu as crianças de rua. Mais de 20 anos depois, leu outro livro de Jorge Amando, que a fez tomar a decisão de vir para a Bahia escrever Um Defeito de Cor. Ana Maria vendeu tudo o que tinha e foi morar em Itaparica apenas com a roupa do corpo. “Eu não teria conseguido escrever o lido se eu não tivesse vindo para cá”, contou.

Ana observou os lugares em seus detalhes, especialmente os prédios, que eram lugares que sua personagem veria, caso existisse. As ruas de Cachoeira fazem parte dessa história, e Ana leu um trecho em que a sua personagem chega à cidade na época da Festa da Boa Morte. A jovem é uma africana trazida para o Brasil como escrava, e seu olhar sobre as coisas e as pessoas é o de uma estrangeira.

“Eu não tinha a menor ideia de como era escrever um livro, e só depois dele eu vi o que buscava, que era a minha história: um resgate do que eu tinha de negra e estava dentro de mim”, contou. Ana teve essa certeza depois de partir para os Estados Unidos, onde mora atualmente.

O tom de pele no Brasil é múltiplo, e assim são as denominações que se recebe de acordo com esses tons. Pode-se ser “moreninha” ou negra, de acordo com a intensidade da cor. Nos Estados Unidos, Ana se sentiu negra porque era tratada como tal, inclusive pelas pessoas negras daquele país, que não faziam esse tipo de distinção. “A primeira vez que eu me vi negra foi no Free Jazz Festival, em que senhoras negras me chamaram de sister [irmã]”. Nesse momento, a escritora entendeu o porquê de ter escrito o livro e quem ela era afinal.

A mineira explicou que, para escrever o livro, teria que fazer o que chamou de “mapas afetivos”, onde os acontecimentos que ela narrou aconteceram, para que pudesse entender os locais e os momentos históricos de que falava. Para isso, utilizava anúncios de jornais do século XIX, onde havia descrições dos sinais corporais de “negros fugidos” para definir as etnias a que pertenciam. A narrativa escolhida foi a de terceira pessoa, tomando por base a narração usada pela avó, quando contava histórias.

Um dos trechos da obra que Ana Maria mais quis terminar foi o da viagem no navio negreiro. A escritora “se transportou para a pele da personagem”, indo com ela para dentro do navio.

Ana teve a ajuda da mãe para escrever o livro. “A minha mãe leu as 19 edições do meu livro, página a página, e a sintonia melhorou com o tempo”. A sintonia da mãe com a história era tal que a autora já ouvia os comentários da mãe enquanto produzia.

Um Defeito de Cor desmistifica vários pontos da cultura afrobrasileira. Um deles é o mito da nação Jeje: a palavra jeje, em si, significa “estrangeiro”, assim, a nação Jeje não era uma nação. “Este é um livro que fala sobre maternidade, orfandade e a história do negro vindo da áfrica. Depois de perder sua mãe e seu local inicial, ele sempre será estrangeiro. Não conseguirá achar o seu lugar depois”, reforça a autora.

A personagem criada por Ana era politeísta, e Schommer quis saber como ela se envolveu com os muçulmanos e acabou participando da Revolta dos Malês. A autora explicou que o próprio candomblé, enquanto sincretismo religioso, é uma explicação para esse comportamento: “a luta pela liberdade possibilita essa união”, completou. A jovem escrava acendia velas para todo mundo, e isso fazia com que ela perdesse a identidade.

A segregação fez com que outras realidades mudassem a exemplo dos estadunidenses: “eles foram segregados e tiveram que aprender a viver assim, criando mecanismos de manter o orgulho negro e a irmandade”, comentou. O maior exemplo disso, segundo Ana, é o próprio presidente Barack Obama, que foi beneficiário do sistema de cotas, sem o qual ele jamais teria chegado à presidência.

A plateia perguntou se a política de cotas não e uma maneira de segregar os negros, e Ana aconselhou as pessoas a tomarem cuidado com esse tipo de afirmação, porque pode ser direcionada para que os negros se sintam humilhados. “Não acho que isso seja uma vergonha, porque não é dado de graça. O negro que conseguiu terminar o ensino médio já é um vencedor”, explicou.

Emocionada, Ana encerra contando que Um Defeito de Cor foi o primeiro livro que seu avô leu. “Minha avó tirava página por página para que meu avô lesse, o livro foi todo desmontado e ele leu sem ficar com as mãos inchadas do diabetes”.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Páginas Baianas” - Gustavo Falcón, Adelice Souza e Márcio Matos

foto: Vinícius Xavier

Márcio Matos, Gustavo Falcón e Adelice Souza discutiram as produções baianas e o mercado editorial, mediados por Sérgio Cerviño Rivero.

Bahia é a terra da alegria, dizem. Fugir dessa ideia é um desafio para os escritores baianos que pensam “fora da caixa”, e Adelice Souza sente isso na pele através das expectativas em torno das suas produções. A realidade da literatura é aquela que vem do povo, a boa literatura é aquela que toca o coração das pessoas. O texto literário só se consuma depois de lido.

Gustavo Falcón explicou que a identidade de um povo é um processo de criação constante. Refletir e mudar a realidade são os lados mais difíceis da criação. “O mercado captura nossos poucos criadores e os leva para o demônio, o capitalismo”, lamenta.

A baianidade de Márcio Matos lhe parece fajuta, pois não incorporou traços típicos da baianidade tradicional. Do ponto de vista mercadológico, Márcio disse que a Bahia piorou muito depois de João Ubaldo. Ainda persistem uma série de problemas paras produções literárias chegarem ao público.

Os maiores problemas de ser autor na Bahia, segundo Márcio, são de distribução e circulação. “A circulação é uma incumbência da Academia, que peca porque continua se debruçando sobre os escritos do Mar Morto”.

Para Falcón, dá-se mais valor ao rock que à literatura. Os roqueiros deveriam pagar taxas altas, já que não produzem letras com qualidade literária. “Nós fazemos literatura, que é coisa séria”, completou. Ele disse que a distribuição no Brasil é perversa e articulada, assim como a educação. “Por que o Estado Progressista não vai de frente a esse monopólio da ignorância?”, questionou.

Adelice enfatizou a necessidade de haver mediadores de leitura nas escolas, de modo que a relação entre os estudantes e os livros melhorasse. “Esse é um pequeno encontro que gera tantas possibilidades”, suspira. Para escrever, é preciso primeiro ser um leitor,e com a autora não foi diferente: “eu pensava se era possível que eu pudesse mexer com as pessoas da mesma maneira que mexeram comigo”.

Para Márcio, “esse drama do que fazer com a sua sensibilidade faz com que as pessoas decidam escrever”. E nem sempre essas pessoas têm talento. O comunicólogo acredita que não tem o menor talento para poesias, e por isso tenta “não ofender o mundo escrevedo-as”.

Falcón chamou a atenção para a necessidade de ter uma família que incentive e seduza as crianças a lerem. “O conhecimento não é só cognitivo. Sem uma família que te seduza para a literatura, você não vai se interessar por ela”, explicou.

Falando sobre temas, Márcio comentou que sua imaginação parte de algo totalmente diferente daquilo que chega ao seu Leitor. Adelice disse que há épocas em que as escolhas temáticas variam muito, e sempre há momentos em que estamos disfarçados no meio dos textos. “Meu último livro é algo que eu queria escrever para o meu avô, que morreu. Escrever sobre a memória de alguém que não sabia ler nem escrever era muito importante”, contou. Falcón segue a linha do controle sobre a inspiração: “é técnica pura, como um trabalho com uma pedra preciosa, tem que ser feito com muito esmero”, concluiu.


Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Contos: Síntese e Completude” - Marcelino Freire e Ronaldo Correia de Brito

foto: Vinícius Xavier

Marcelino Freire e Ronaldo Correia de Brito discutiram a essência, a produção e a importância dos contos, e sua relação como os romances, na companhia do mediador Aurélio Schommer.

Do sertão para o mundo, onde a cultura negra é forte ainda que sob a sombra da fé católica, os contistas florescem. A mãe de Marcelino Freire, sua referência mais próxima do catolicismo popular sertanejo, queria que seu filho fosse “gente” – e ser gente não é ser poeta, e sim advogado, engenheiro...

Gente ou não, Ronaldo Correia de Brito é médico e contista. Para ele, o romance é “uma invenção da atualidade em que tudo cabe”, é um gênero em que se pode errar. Um bom romance é uma soma de vários acertos. O conto “é exato, tem um fôlego, um ritmo”. Dentro de tanta exatidão, não é permitido errar. O conto nasce sempre de uma impressão oral, que depois de narrada, pode ser repetida várias vezes.

Apesar da flexibilidade dos romances, Marcelino não conseguia lidar com a rotina criativa que eles exigem. “Eu não conseguia dormir pensando nos capítulos, ia sempre dormir com os personagens. Eles batem panelas no ouvido do leitor”, contou.

Ainda tratando do processo criativo, Marcelino reclamou de que as pessoas pensam que escrever é só sentar na frente do computador. “Eu escrevo contos, eu não digito contos”, revolta-se. Ronaldo é mais metódico, produz sobre uma rígida disciplina médica.

Os grandes artistas da música e da literatura falam da Bahia, e de lugares que dão vontade de viajar e conhecer nas pessoas - Marcelino contou que a Santo Amaro de Caetano Veloso foi assim para ele.

Ronaldo fez uma ressalva: Não glamourize o escritor. Escritores são de carne e osso”, pediu. Marcelino completou a ideia dizendo que festas literárias são boas por humanizarem o escritor. “As pessoas acham que os escritores ou morreram ou estão para morrer”, brincou.
 
Aline Cavalcante

Resumo da mesa “As Primeiras Vilas da Bahia” - Ubiratan Castro e Aurélio Schommer

foto: Vinícius Xavier

Ubiratan Castro (Professor Bira) e Aurélio Schommer discutiram a história das vilas baianas de Cachoeira, São Francisco do Conde e Jaguaripe e de sua relação com a capital, Salvador, que na época já era uma cidade.

Professor Bira começa falando sobre a índia Paraguaçu, mais tarde Catarina Paraguaçu, juntamente com o “Caramuru” Diogo Álvares Correia são parte da história do Brasil e da fundação da Vila do Pereira. Catarina Paraguaçu, depois de casar com o Caramuru se torna uma das principais colaboradoras da colonização portuguesa ao dar apoio com um exército Tupinambá à coroa.

O mar era uma via que levava os senhores às suas terras no recôncavo facilmente, sem que tivessem que deixar de morar em Salvador. Esses senhores cuidavam de seu gado de maneira simples, levando-o sertão adentro em caravanas, e trazia o gado engordado para o consumo no recôncavo.

O surgimento da Vila de Cachoeira se deu depois da busca pelo ouro, que mudou todo o cenário: "O ouro é que chega e muda tudo. Traz gente de todo o mundo, desperta a ambição dos chamados 'desclassificados', para Salvador", explica o professor. Com isso, várias casas de comércio se instalaram em Salvador, e com essa mudança comercial os senhores dos engenhos do recôncavo perderam força, deslocando-se para suas fazendas e lá construindo vilas. Cachoeira foi a primeira dessas vilas, um local de transbordo, por onde passavam estradas reais em direção às Minas Gerais e pelo qual o ouro chegava.

São Francisco do Conde surge da mistura dos Franciscanos com os senhores de engenho. Lá havia muita repressão da fuga de escravos, comandada pelos senhores de engenho que dominavam a região. Segundo Ubiratan, a principal diferença entre Cachoeira e as outras vilas do recôncavo era de cunho social e político: “As outras vilas eram senhoriais e sua posição política era a de hegemonia dos senhores de engenho, enquanto Cachoeira era comercial e liberal como Salvador”. A guerra da Independência da Bahia é paga pela prosperidade das vilas de Santo Amaro e São Francisco do Conde

Sobre a escravidão e sua relação com o recôncavo, Ubiratan explica que Cachoeira e as cidades próximas produziam açúcar na área litorânea e fumo de rolo, que era a moeda da compra de escravos, em sua maioria os Bantos (o fumo era usado pelos africanos para a higiene bucal). Esse tráfico é estancado pela pressão dos ingleses (1850), que chegam a afundar navios negreiros. Com o fim da compra de escravos, o fumo perde importância e acaba sendo utilizado posteriormente pelos comerciantes alemães para produzir charutos finos.  “O charuto tinha que ser enrolado nas coxas das mulheres de Cachoeira e Maragogipe, tudo pela carga erótica”, conta o professor.

Posteriormente o petróleo e a tecnologia que dele deriva trouxeram as estradas, carros e caminhões, que deslocam a atenção do recôncavo para Salvador, levando daqui a mão de obra. Com isso, Cachoeira e as cidades vizinhas perdem espaço: “Quem vê Cachoeira hoje, não a vê como era no auge. Cachoeira tinha negros riquíssimos, como as Irmãs da Boa Morte, todas cobertas de ouro e jóias”, lamenta Ubiratan. O professor espera que o desenvolvimento prometido para a Baía de Todos os Santos traga de volta a força comercial que Cachoeira tinha, através da construção naval e da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB).

Aline Cavalcante

Resumo da mesa “Paradidáticos e sua Importância para a Educação” - Ubiratan Castro, Pawlo Cidade e Silvino Bastos

 
foto: Vinícius Xavier

Ubiratan Castro, Pawlo Cidade e Silvino Bastos discutiram o conceito de paradidáticos, seu uso e suas consequências para a educação com a mediação de Nildon Pitombo.

Latidos, miados, batidas de pé, apertos de mão, palmas e uma fábula de Millôr Fernandes são a maneira de Pawlo Cidade, escritor com formação teatral, usou para mostrar, através da interação com o público, o que é possível produzir quando se foge do convencional. Ubiratan Castro explicou que a arte também é uma forma de conhecimento: “nossa epistemologia deve ser baseada na diversidade”, afirmou.

Os autores discutiram o desafio de se fazer literatura para os jovens, que preferem ver filmes a ler livros. Para Pawlo, escrever para a juventude é difícil porque pensamos que estamos produzindo para uma categoria, mas estamos sendo lidos por outra. O paradidático acaba sendo um livro que o aluno tem a obrigação de ler. “Por que indicar um livro em vez de deixar que o ele escolha?”, questionou.

O discurso literário, assim, invade cada vez mais o discurso histórico, tornando-se um desafio para o narrador que está amarrado na pesquisa. “A literatura tende a ser mais universal do que a literatura, explicou o professor Bira.

Silvino culpou a falta de histórias de ficção científica pelo que ele chama de “apagão tecnológico”. Questionou a falta de histórias do cotidiano no lugar das histórias fora do nosso ambiente cultural. Escritor explicou que o paradidático pode melhorar o aprendizado das crianças de maneira real, e mencionou um estudo em que crianças com menor desempenho escolar melhoraram 30% após o uso do paradidático, enquanto as crianças com bom desempenho não apresentaram melhora. Nildon completou: “Cultura não é para ser um objeto da transversalidade na caixinha dos parâmetros curriculares”.

Falando do e-book, os autores discorreram sobre suas crenças na continuidade do livro impresso. Pawlo enfatizou que o livro analógico não tem baterias e não precisa “salvar antes de fechar”. Silvino lembrou que é comum ver pessoas na praia com livros de bolso: “há espaço para todos, e por isso o livro impresso não vai acabar”, comentou.

Os autores encerraram pedindo a todos que lessem mais, especialmente os pais, para servirem de exemplo aos filhos.

Aline Cavalcante

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Resumo da mesa "Literatura Brasileira - Sucesso de Crítica e Público?" - Fernando Morais, Miguel Sanches e Raquel Cozer


Foto: Vinícius Xavier

Raquel Cozer, Miguel Sanches Neto e Fernando Morais discutiram educação, literatura brasileira contemporânea, mercado editorial e comentaram, de maneira descontraída, suas experiências como autores na mesa de abertura da Flica, mediada por Jefferson Beltrão, que aconteceu na noite de ontem no Conjunto do Carmo, em Cachoeira.

Os livros de Fernando Morais são grandes reportagens feitas com esmero, que mais parecem romances. Fernando explicou que, para escrever textos biográficos, é preciso dar vida ao personagem. “O bom biógrafo tem que desenterrar o defunto e botá-lo para andar o mais parecido possível com o que era quando ele estava vivo”. Em um futuro próximo, ele pretende publicar um livro sobre Antonio Carlos Magalhães, de quem era muito próximo. ACM confiava tanto em Fernando que o escritor teve a possibilidade de construir arquivos em vídeo (os últimos nove anos de vida de ACM) e versões digitalizadas dos documentos do político.

Fernando ressaltou a importância de se investir na educação básica e nas bibliotecas públicas, que devem estar em cada município e assim atrair as crianças para os livros, mesmo fora das escolas. "Minha esperança é que os recursos do pré-sal sejam utilizados fundamentalmente na educação", disse.

A literatura brasileira, segundo Miguel Sanches Neto, é ignorada, e além disso nossos escritores não têm a visibilidade de que gostariam. "É muito difícil competir com grandes figuras midiáticas, como Chico Buarque, que ainda tem a vantagem de ser bonito. Então é melhor esperar o momento certo, a hora em que você não sentir vergonha de publicar o seu livro", aconselhou. Disse ainda que o verdadeiro leitor é aquele que lê quando não precisa ler.

Falando sobre a situação editorial do Brasil, Raquel Cozer explicou que existem milhares de editoras no Brasil, que dão espaço para os novos autores, ainda que pequeno e as festas literárias são uma boa ocasião para dar visibilidade  e incentivo para esses autores. Disse ainda que todo escritor quer vender, mas nenhum pensa em ficar rico, e que o livro aos poucos está ficando mais barato. "A maioria acha muito melhor a ideia de ser lido, de que gostem do livro", explica.

Sanches só escreve se estiver "com um osso atravessado na garganta" e não tem medo da internet, nem da pirataria. "O mercado editorial está se cercando de muitas maneiras de evitar que isso aconteça". O escritor discorda de que a internet seja uma ameaça, e acredita que a internet abre margem para a cultura do gratuito. Ele acredita que para autores que estão estabilizados, a pirataria serve de publicidade. "O leitor de poesia lê mais na internet do que nos livros", exemplifica.

Fernando acredita que a internet precisa ser experimentada como uma maneira de valorizar e remunerar seus livros, e disse que  experimentaria  esse espaço “se baixar esse livros mais antigos com um comunicado para os leitores: eu vivo disso, pague por ele quanto você achar que ele vale”. O autor comentou que há pessoas que vendem mais livros em sebos do que em livrarias, e há sebos que fazem fortunas pela internet sem deixar de remunerar os autores. O Audiolivro, que é um formato de livro criado especialmente para pessoas cegas, é um formato que ele já experimentou e assegura que é um bom mercado: "o audiolivro é adquirido por motoristas de caminhão, que passam a vida ali nas estradas. O sujeito viaja ouvindo uma história", explica.

Aline Cavalcante

terça-feira, 11 de outubro de 2011

De Cachoeira para o mundo: a Flica 2011 vai ter cobertura oficial pelas mídias sociais

 
foto: Vinícius Xavier

A Flica 2011 vai ter cobertura oficial pelas mídias sociais de todas as mesas em tempo real. Acesse o nosso Twitter e Facebook oficiais, e conheça detalhes exclusivos das mesas, peculiaridades e fotos, diretamente da plateia do claustro do Conjunto do Carmo, no calor das discussões, para deixar nosso internauta bem próximo de tudo que acontece em Cachoeira, Bahia.

Acesse:


Os patrocinadores da Flica 2011 falam sobre a importância do evento para Cachoeira e para a cultura da Bahia.

foto: Vinícius Xavier

A Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) sabe o quanto é importante ter uma torcida que incentive seus objetivos. Mais do que isso, os patrocinadores acreditam e participam de cada nova etapa junto à equipe que pensa e faz acontecer este evento.

Para saber um pouco mais do que pensam os patrocinadores, confira abaixo alguns depoimentos sobre as suas expectativas para a tão aguardada Flica.
 
“Esse é um evento de alto nível, que se consolida cada vez mais e que, nos próximos anos, vai se configurar como uma grande atração do calendário turístico baiano”, afirma o secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli.

Para a diretora de Cultura do Oi Futuro, Maria Arlete, por conta do patrocínio da empresa para a realização da Flica, é possível disseminar a cultura brasileira e colaborar com o desenvolvimento econômico da cidade. “O Oi Futuro é o instituto de responsabilidade social da Oi, que tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento humano e social dos cidadãos, especialmente jovens”, explica Maria Arlete.

 “A Flica é o mais inovador evento literário do ano, na Bahia. Tem tudo para se firmar como ponto de encontro de escritores baianos, brasileiros e estrangeiros – notadamente de língua portuguesa – com o grande público. A Fundação Pedro Calmon aposta alto no sucesso da festa e, por isso, além de participar do patrocínio ao evento, chamou a si o funcionamento de um espaço particularmente dedicado às editoras e autores baianos, que estará localizado na Praça da Aclamação, anexo ao Pouso da Palavra, espaço criado pelo imortal poeta Damário da Cruz. O visitante encontrará neste espaço um micro-ônibus biblioteca e um micro-ônibus feira de livros, além de variadas atividades, tais como lançamentos, leituras, conferências e contação de histórias. Venham todos, comer uma legítima maniçoba e apoiar o fazer literário na Bahia! Salve a Flica!”, convida o professor e historiador Ubiratan Castro, diretor geral da Fundação Pedro Calmon.
 
“A Secretaria da Educação acredita que a Flica surgiu para promover a disseminação do livro e da leitura. Nós esperamos que este evento seja um ímã para o estudante da educação básica, auxiliando-o em seu processo de formação cultural e fazendo evoluir sua aprendizagem na sala de aula”, pontua Amélia Maraux, superintendente de Desenvolvimento da Educação Básica.

“Em termos culturais, a Flica é um divisor de águas para o município de Cachoeira, principalmente por se tratar de um evento pioneiro na Bahia. O público que estamos esperando é diferente daquele que vem durante os festejos juninos e, por isso, estamos nos preparando há algum tempo para recebê-lo da melhor maneira”, anseia o secretário de Cultura de Cachoeira, Lourival Trindade.

As expectativas do curador

foto: Alan Lobo

Pedem um texto meu sobre expectativas para a Flica como curador. O que dizer? Estou ansioso, é óbvio, morrendo de medo que as mesas não funcionem como foi imaginado, mas, ao mesmo tempo, torcendo por isso, quero ser surpreendido, talento os convidados têm para me surpreender, surpreender o público.

Tudo que precisava ser escrito já o foi, por autores que já morreram. Não haveria, portanto, utilidade nenhuma em reunir autores contemporâneos. Nada do que disserem acrescentará algo transcendental ao que já foi escrito. Partindo desse pressuposto, o que vamos fazer em Cachoeira? Jogar conversa fora, praticar filosofia de boteco, num lugar apropriado a esse tipo de exercício desnecessário, mas muito prazeroso. Eu sempre quis bater papo, simplesmente bater papo, com um intelectual de porte, com alguém dotado de inteligência privilegiada, capaz de propor novas questões a partir das velhas.

É isso que gostaria de ir fazer em Cachoeira, isso me anima a sair de meu apartamento com vista para o mar. Participar de bate papo, sem pretensões acadêmicas ou charlatanismo do tipo "nós temos a resposta". É o contrário dos debates acadêmicos que espero ver na Flica. Tudo que precisava ser escrito ou dito já o foi, vamos então para a festa, a festa literária, fazer o que esperamos fazer numa festa: conversar, bater papo, divertirmo-nos com bons debates. Espero que os autores convidados e o público compartilhem desse espírito da Festa. Não vamos inaugurar ou reinaugurar nada, vamos simplesmente bater papo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Nota Pública - A Flica 2011 tem novo lugar

 foto: Vinícius Xavier


A Coordenação Geral da FLICA 2011, através do que foi repassado pela empresa Putzgrillo! Cultura, realizadora da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), informa ao público inscrito, imprensa, convidados, apoiadores e patrocinadores, a mudança do local de realização do evento, passando do Auditório da UFRB para o Conjunto do Carmo, na Praça da Aclamação, em Cachoeira-BA. Neste novo espaço, será montada uma estrutura que possa abrigar confortavelmente as atrações literárias e o público inscrito para as mesas que aconteceriam no Auditório. Já em relação ao Pátio do Telão, as inscrições do público também estão garantidas, e este será montado em um espaço anexo ao que abrigará as mesas.

 
A mudança do local aconteceu por conta de um comunicado da UFRB recebido nesta data de 07 de outubro, em que o Diretor do CAHL (local onde fica o Auditório da UFRB), Prof. Dr. Xavier Vatin, informa que “em função da ocupação, por um coletivo de estudantes da UFRB auto-denominado “Paralisar para Mobilizar”, das instalações do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB, ocorrendo desde o dia 1° de setembro deste ano até a presente data, a FLICA não poderá infelizmente ser realizada no Quarteirão Leite Alves, sede do CAHL/UFRB, no período previsto de 11 a 16 de Outubro”.

 
Felizmente o cronograma de montagem da estrutura da FLICA não foi afetado, e segue normalmente o que foi planejado, apenas com a modificação do local de realização. As mesas e as inscrições estão mantidas, e o evento começa pontualmente às 19h da próxima terça, 11 de outubro.

Coordenação Geral FLICA 2011
Alan Lobo / Emmanuel Mirdad / Marcus Ferreira