foto: Ricardo Prado, retirada daqui
Há poesias, como a de Damário Dacruz, que constituem exercícios dialéticos, mas é bom estabelecer limites, pois a poesia como exercício dialético diferencia-se dos demais exercícios dialéticos pela ausência de charlatanismo. Sim, os sistemas de crença dialéticos, seguindo a ilusão apontada por Kant, propõem-se a resolver problemas pessoais, a ajudar alguém a resolver dilemas e, supremo charlatanismo, a encontrar a felicidade. Prometem o que não têm para entregar.
O poeta está só, mas sua poesia não se propõe a encontrar companhia, a resolver o problema da solidão. Poesia, enquanto exercício dialético, é constatação, vislumbre, mas não é porta de saída. Quem me fez pensar assim? Damário Dacruz, em:
Navegante
De mim
exijam pouco...
Pois o tempo
que me resta
é louca busca
de como atravessar
o Sol...
Pois é, Darlon, Zé Inácio, João Vanderlei, autores convidados para a mesa de domingo pela manhã, a poesia baiana contemporânea, espero de vocês a mesma atitude não charlatã, ou seja, apenas poesia, para atravessar o sol, como propôs Damário, ou para nada.
Aurélio Schommer
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