domingo, 2 de outubro de 2011

Substantivos Abstratos, Concretudes Possíveis na Flica 2011 #05



História
Aurélio Schommer

História não é substantivo concreto? Alguns míopes enxergam isso no passado. Não, a história não é concreta, é uma construção mental, uma interpretação sobre algo incompleto, pois jamais teremos todos os dados, todos os bastidores. Jamais saberemos das vontades ocultas detrás de uma decisão, das verdades que se perderam por falta de registro. A história é, portanto, construção, reconstrução, arrumada, necessariamente, com o apoio da linguagem ficcional, com cimento novo a tapar rachaduras velhas.


A Flica 2011 está repleta desses pedreiros especialistas em restaurar ruínas. Começa com Fernando Morais, que reconstruiu Olga Benário, Assis Chateaubriand e tantos outros. Segue com Ubiratan Castro, esse magnífico contador de histórias a partir do resgate de fragmentos de memória concretos. Teremos Leandro Narloch, que jura ter resistido à tentação de simplesmente inventar, e Ana Maria Gonçalves, que assume: inventou mesmo, a história é pano de fundo, como sempre será, somos o resultado do passado. Joel Rufino, Nei Lopes, Rodrigo Constantino e Liv Sovik vão falar da história racial. Isso mesmo, racial. Ainda que o termo “raça” não seja mais aceito pela ciência, no passado se falava muito nisso, se levava a sério a ideia de que pessoas são diferentes pela cor da pele.


Para completar, no domingo, Brasil, Cabo Verde, Angola, Portugal, as muitas histórias que se misturam, com o português João Pereira Coutinho, o cabo-verdiano Germano Almeida e a mediação do angolano Camilo Afonso. E o brasileiro? Pois é, não tem. Precisa? Não, né? Deixemos quem descobriu o Brasil tentar descobrir também nosso passado, desvendá-lo.

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