sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Resumo da mesa “Páginas Baianas” - Gustavo Falcón, Adelice Souza e Márcio Matos

foto: Vinícius Xavier

Márcio Matos, Gustavo Falcón e Adelice Souza discutiram as produções baianas e o mercado editorial, mediados por Sérgio Cerviño Rivero.

Bahia é a terra da alegria, dizem. Fugir dessa ideia é um desafio para os escritores baianos que pensam “fora da caixa”, e Adelice Souza sente isso na pele através das expectativas em torno das suas produções. A realidade da literatura é aquela que vem do povo, a boa literatura é aquela que toca o coração das pessoas. O texto literário só se consuma depois de lido.

Gustavo Falcón explicou que a identidade de um povo é um processo de criação constante. Refletir e mudar a realidade são os lados mais difíceis da criação. “O mercado captura nossos poucos criadores e os leva para o demônio, o capitalismo”, lamenta.

A baianidade de Márcio Matos lhe parece fajuta, pois não incorporou traços típicos da baianidade tradicional. Do ponto de vista mercadológico, Márcio disse que a Bahia piorou muito depois de João Ubaldo. Ainda persistem uma série de problemas paras produções literárias chegarem ao público.

Os maiores problemas de ser autor na Bahia, segundo Márcio, são de distribução e circulação. “A circulação é uma incumbência da Academia, que peca porque continua se debruçando sobre os escritos do Mar Morto”.

Para Falcón, dá-se mais valor ao rock que à literatura. Os roqueiros deveriam pagar taxas altas, já que não produzem letras com qualidade literária. “Nós fazemos literatura, que é coisa séria”, completou. Ele disse que a distribuição no Brasil é perversa e articulada, assim como a educação. “Por que o Estado Progressista não vai de frente a esse monopólio da ignorância?”, questionou.

Adelice enfatizou a necessidade de haver mediadores de leitura nas escolas, de modo que a relação entre os estudantes e os livros melhorasse. “Esse é um pequeno encontro que gera tantas possibilidades”, suspira. Para escrever, é preciso primeiro ser um leitor,e com a autora não foi diferente: “eu pensava se era possível que eu pudesse mexer com as pessoas da mesma maneira que mexeram comigo”.

Para Márcio, “esse drama do que fazer com a sua sensibilidade faz com que as pessoas decidam escrever”. E nem sempre essas pessoas têm talento. O comunicólogo acredita que não tem o menor talento para poesias, e por isso tenta “não ofender o mundo escrevedo-as”.

Falcón chamou a atenção para a necessidade de ter uma família que incentive e seduza as crianças a lerem. “O conhecimento não é só cognitivo. Sem uma família que te seduza para a literatura, você não vai se interessar por ela”, explicou.

Falando sobre temas, Márcio comentou que sua imaginação parte de algo totalmente diferente daquilo que chega ao seu Leitor. Adelice disse que há épocas em que as escolhas temáticas variam muito, e sempre há momentos em que estamos disfarçados no meio dos textos. “Meu último livro é algo que eu queria escrever para o meu avô, que morreu. Escrever sobre a memória de alguém que não sabia ler nem escrever era muito importante”, contou. Falcón segue a linha do controle sobre a inspiração: “é técnica pura, como um trabalho com uma pedra preciosa, tem que ser feito com muito esmero”, concluiu.


Aline Cavalcante

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