Raquel Cozer, Miguel Sanches Neto e Fernando Morais discutiram educação, literatura brasileira contemporânea, mercado editorial e comentaram, de maneira descontraída, suas experiências como autores na mesa de abertura da Flica, mediada por Jefferson Beltrão, que aconteceu na noite de ontem no Conjunto do Carmo, em Cachoeira.
Os livros de Fernando Morais são grandes reportagens feitas com esmero, que mais parecem romances. Fernando explicou que, para escrever textos biográficos, é preciso dar vida ao personagem. “O bom biógrafo tem que desenterrar o defunto e botá-lo para andar o mais parecido possível com o que era quando ele estava vivo”. Em um futuro próximo, ele pretende publicar um livro sobre Antonio Carlos Magalhães, de quem era muito próximo. ACM confiava tanto em Fernando que o escritor teve a possibilidade de construir arquivos em vídeo (os últimos nove anos de vida de ACM) e versões digitalizadas dos documentos do político.
Fernando ressaltou a importância de se investir na educação básica e nas bibliotecas públicas, que devem estar em cada município e assim atrair as crianças para os livros, mesmo fora das escolas. "Minha esperança é que os recursos do pré-sal sejam utilizados fundamentalmente na educação", disse.
A literatura brasileira, segundo Miguel Sanches Neto, é ignorada, e além disso nossos escritores não têm a visibilidade de que gostariam. "É muito difícil competir com grandes figuras midiáticas, como Chico Buarque, que ainda tem a vantagem de ser bonito. Então é melhor esperar o momento certo, a hora em que você não sentir vergonha de publicar o seu livro", aconselhou. Disse ainda que o verdadeiro leitor é aquele que lê quando não precisa ler.
Falando sobre a situação editorial do Brasil, Raquel Cozer explicou que existem milhares de editoras no Brasil, que dão espaço para os novos autores, ainda que pequeno e as festas literárias são uma boa ocasião para dar visibilidade e incentivo para esses autores. Disse ainda que todo escritor quer vender, mas nenhum pensa em ficar rico, e que o livro aos poucos está ficando mais barato. "A maioria acha muito melhor a ideia de ser lido, de que gostem do livro", explica.
Sanches só escreve se estiver "com um osso atravessado na garganta" e não tem medo da internet, nem da pirataria. "O mercado editorial está se cercando de muitas maneiras de evitar que isso aconteça". O escritor discorda de que a internet seja uma ameaça, e acredita que a internet abre margem para a cultura do gratuito. Ele acredita que para autores que estão estabilizados, a pirataria serve de publicidade. "O leitor de poesia lê mais na internet do que nos livros", exemplifica.
Fernando acredita que a internet precisa ser experimentada como uma maneira de valorizar e remunerar seus livros, e disse que experimentaria esse espaço “se baixar esse livros mais antigos com um comunicado para os leitores: eu vivo disso, pague por ele quanto você achar que ele vale”. O autor comentou que há pessoas que vendem mais livros em sebos do que em livrarias, e há sebos que fazem fortunas pela internet sem deixar de remunerar os autores. O Audiolivro, que é um formato de livro criado especialmente para pessoas cegas, é um formato que ele já experimentou e assegura que é um bom mercado: "o audiolivro é adquirido por motoristas de caminhão, que passam a vida ali nas estradas. O sujeito viaja ouvindo uma história", explica.
Aline Cavalcante
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