sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Resumo da mesa “Escrachos, Escárnios e Pornografia - A Literatura Underground” - Reinaldo Moraes e Victor Mascarenhas

foto: Vinícius Xavier

Verborragia, risos e freiras indignadas foram as marcas da mesa mais esperada da Flica, com a participação de Victor Mascarenhas e Reinaldo Moraes, os auto-intitulados “prostitutos do gênero”.

Victor, logo de cara, comentou as semelhanças e diferenças entre dois gêneros literários já bem conhecidos, o conto e o romance: “o contista não tem coragem de encarar o romace”. Reinaldo complementou: “O poeta é o herói da linguagem, a poesia é uma academia de musculação para o romance”.

Victor reclamou que os editores utilizavam-se da desculpa da grafia correta do dicionário para corrigir as palavras que usava, e deu o exemplo da palavra “viado” (homossexual), que era substituída pela palavra “veado” (animal). Contou uma piada dita a ele por Jorge Portugal: “Está errado porque veado vive na mata, já o viado pode ser facilmente encontrado em perímetro urbano”.

Reinaldo comenta sobre seu livro, mencionando algumas histórias. Ele fala sobre trocadilhos dentro de um conto em que um homem xaveca uma senhora de 60 anos em troca daquilo que ela puder oferecer – que vai desde cigarros até um lugar para dormir. Nesse conto, as palavras “Veia” e “Véia” são postas por Reinaldo como motivo suficiente para mandar o Acordo Ortográfico (que retira o acento agudo de palavras terminadas em - eia, como “plateia”, “colmeia” etc) “para as cucuias”.

Reinaldo reclamou de Chico Buarque, com quem esteve em outra ocasião. Para o escritor baiano, Chico é educado demais, não fala um único palavrão e ainda faz milhares de mulheres lindas e jovens surgirem do nada.

Falando agora de romances, Reinaldo comentou a liberdade que se tem ao escolher o romance como formato: “Romance é de natureza aberta, apesar de você ter as unidades aristotélicas, ainda sobra muito espaço para incluir tudo”. Reinaldo escreve em primeira pessoa, e Victor perguntou se isso não fazia com que as pessoas achassem que seus romances eram autobiográficos. Histórias de Victor em uma casa de swing e Mario Prata em um conto erótico jamais publicado de Germano Almeida fizeram a plateia rir - e escandalizaram algumas freiras que estavam por ali.

Reinaldo explicou como é difícil fazer uma cena erótica, porque por um lado pode-se cair na vulgaridade, e por outro se corre o risco de “cair em uma sublimação babaca”. Falando de influências, Reinaldo é enfático: “Não tenho influências. Sou influenciado por mim mesmo”. Para o escritor, ser influenciado por alguém é você “imitar esse alguém”, necessariamente. Victor tinha outra visão do mesmo lado da moeda, e disse que as influências “são coisas do ranço academicista”, nem sempre ele acreditava naquilo que escrevia e tinha influência especial das histórias em quadrinhos.

Para Reinaldo, é absurdo obrigar um adolescente a ler os clássicos “chatíssimos” da literatura brasileira, como “O Guarani”, “Inocência”, e que isso pode fechar as portas para a leitura prazerosa. Reinaldo teve o interesse despertado pelos livros de Machado de Assis. Victor explica que sua formação literária foi bem bagunçada e que não seguiu nenhum roteiro acadêmico de literatura.

Victor falou de um de seus contos do livro Cafeína em que uma prostituta se vende por um cafezinho e consuma o negócio atrás de uma banca de revistas. Em certa ocasião, lhe perguntaram se o livro era autobiográfico, e o escritor não perdeu a piada: “Me perguntaram se eu tinha relações com putas e eu disse que não... EU era a puta”. Diante do estranhamento, Victor explicou: “Poxa, você nunca fez pequenas concessões para conseguir as coisas?”

A conversa é reconduzida para o conteúdo dos livros de Reinaldo, em especial um conto que fala de uma suruba exotérica, a Surubrâmane. Quando jovem na década de 70, Reinaldo viu o exoterismo virar moda. Victor aproveitou o gancho comentou o caráter espiritual da vida questionando se “O grande Arquiteto do Universo quer que vejamos a vida como um programa de milhagens”. A polêmica entrou também no universo religioso católico, quando Victor comentou o fato de Nossa Senhora ser uma mulher com muitos nomes diferentes, e uma imagem para cada um deles:“Vejo Nossa Senhora como uma franquia”.

Entrando no tema auto-ajuda, Victor fez piada: “A única forma de auto-ajuda com 100% de êxito é a masturbação. Funciona tão bem que mesmo que o cara não se ame de verdade, resolve”. Os autores finalizam a mesa explicando que o que fazem não é literatura erótica, e sim urbana. O erotismo em suas obras não tem a intenção de excitar, e sim de ironizar, de fazer rir.


Aline Cavalcante

2 comentários:

  1. No calor do debate (e também de Cachoeira), falamos - Reinaldo e eu - pelos cotovelos e imagino como foi difícil fazer um resumo da nossa verborragia meio caótica. Por isso mesmo, queria fazer pequenos reparos no bom resumo de Aline.
    O primeiro deles é que falei que o contista talves seja um escritor que não tem coragem de encarar um romance e não o contrário, como está no resumo. A parte da ejaculação, acho que foi o Reinaldo que disse, não lembro bem - rs
    O segundo pequeno reparo é que quem contou a história de Chico Buarque foi Reinaldo, que o conheceu através de um amigo em comum.
    O terceiro reparo é para atribuir a autoria devida ao autor da piada! O exemplo de diferenciação entre "veado" e "viado" é uma citação de uma piada contada a mim pelo professor Jorge Portugal, como disse na mesa.
    No mais, é agradecer pelo convite da Flica, pelo texto de Aline,pela atenção dos que assistiram, pelos elogios recebidos e pedir desculpas às freirinhas e aos demais que possam ter se sentido ofendidos.

    Abraço,
    Victor Mascarenhas

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  2. Nossa, isso passou batido mesmo. Os senhores falam bastante rápido, de fato!
    O texto será corrigido conforme solicitou. Desde já agradeço a paciência com meus erros.

    Abraço,

    Aline Cavalcante

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