sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Resumo da mesa “Portugal, África e Brasil - Heranças e Afastamentos” - Germano Almeida e João Pereira Coutinho

foto: Vinícius Xavier

A última mesa da Flica contou com o português João Pereira Coutinho e o caboverdeano Germano Almeida, e foi mediada pelo angolano Camilo Afonso. Nesta mesa, foram discutidas as relações entre Portugal, Angola, Cabo Verde e Brasil, e as consequências históricas dessas relações.

João falou da Independência do Brasil e de como ela determinou tudo aquilo que aconteceu com Portugal nos dois séculos seguintes: “o país entrou em várias guerras civis e por fim, passou por uma ditadura”. Germano comenta que Cabo Verde, quando buscou se tornar independente de Portugal, tentou agregar-se ao território brasileiro. Depois disso, Brasil e Cabo Verde mantiveram uma relação distante e só voltaram a se aproximar nos últimos 20 anos.

Camilo Afonso explicou que o “segundo Brasil” foi criado em Angola, de onde vieram os escravos até o fim do tráfico negreiro. “Angola não poderia chorar pelos seus filhos, porque a maioria deles foi para o Brasil e lá morreu”, comentou o angolano. Camilo explicou que segundo Antônio Rego, esse homens ficaram no Brasil e se apaixonaram pelas “mulheres lindas do interior, e por isso não quiseram mais voltar”.

João disse que o impacto da Independência do Brasil não tem comparação com o impacto da Independência de Angola, pois no segundo caso, havia o apoio dos portugueses, e por isso a Independência Angolana não era vista como um trauma. “Quando falamos de Portugal, falamos de um país que sempre dependeu de outros para existir. O que será de Portugal se o projeto europeu falhar?”, questionou.

Germano comentou que Cabo Verde foi primeiramente ocupado pelos negros vindos da África para trabalhar nas lavouras e em um segundo momento, os brancos ocuparam o norte do país. Os jesuítas agiram de maneira inovadora ao promover no país a educação sem distinção de raça. “Somos de fato uma nação grandemente ilustrada. A única forma de subir na escala social é através da escola”, afirmou.

Camilo Afonso voltou a falar de Angola, dos angolanos que nunca voltaram do Brasil e da influência literária herdada da relação entre os dois países. Da Angola não saíram apenas as pessoas, mas os animais (como a galinha d’Angola) e elementos culturais, (como a Capoeira Angola).

Portugal, ao contrário do que se imagina, não é visto com rancor pelos angolanos: “Se tivéssemos rancor com os portugueses, não culparíamos o sistema pelos problemas”. Camilo explica que Angola nasceu em um momento em que dois mundos estavam em choque, a Guerra Fria, e que por isso os Estados Unidos demoraram muito tempo para reconhecer o país. Finalizou com uma pergunta: “que tipos de emendas ao nosso passado teremos que fazer para o bem comum?”.

Ubiratan Castro, que estava na plateia, pediu a palavra e disse que o Brasil não existiria sem Angola, e que o país nasceu aqui em Cachoeira, no dia 25 de junho. “Falamos a mesma língua de maneiras diferentes, que não podem ser domesticadas por um acordo ortográfico”, explicou o professor. Ressaltou ainda a importância da literatura da língua portuguesa, dizendo que os brasileiros leem pouco os autores portugueses. João completou dizendo que ninguém é dono da língua a ponto de determinar de que maneira ela deve ser falada: “a língua é produto da história de um povo. Não conheço ninguém que não consiga entender os textos em língua portuguesa escritos no Brasil ou em outros países”. Camilo finalizou, dizendo que a questão é que cada país saiba respeitar o acordo ortográfico em seu próprio contexto.


Aline Cavalcante

Um comentário:

  1. Línguas,povos e nações.Eis um caldeirão de elementos para mil e um debates.A FLICA está de parabéns por selecionar,para suas mesas redondas,tão ilustres debatedores e tão polêmicos temas.

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