sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Resumo da mesa “Linguagens e Geografias” - Pedro Mexia e Hélio Pólvora

foto: Vinicius Xavier


O editor Rosel Soares abriu a participação de Pedro Mexia e Hélio Pólvora na Flica 2011, para falar das relações dos escritores com suas terras natais e seus países e da união que a literatura é capaz de produzir.

Hélio explicou que a literatura é capaz de fazer pontes entre pessoas de lugares distantes no mundo, falando do livro como um tapete mágico que emociona pessoas de culturas diferentes: "Eu não conheço arma melhor do que a literatura para criar essa comunhão de pessoas".

Provocado por Rosel, Hélio contou de sua relação com o passado e fez recomendações para que as pessoas deixassem a vida seguir seu curso, que não voltassem atrás do tempo perdido. "As pessoas não estão mais onde nós as pomos, e nós não somos mais quem elas conheceram", explica.

De maneira risonha, Hélio fala sobre a idade e sobre os efeitos do tempo: “Estou naquela fase da vida em que o tempo é muito precioso. Vejo os grãozinhos caindo da ampulheta, e estão caindo muito rápido!” Rosel então lembra a Hélio de que ambos fizeram um pacto em que o editor daria mais dez anos de vida ao escritor, com a condição de que ele usasse esse tempo para escrever livros, a que atendeu escrevendo três obras.

Sobre o período que viveu em Portugal, Hélio contou que sua relação literária com o país começou em casa, lendo os livros do pai e amadureceu quando leu livros de José Saramago, autor pelo qual se sentiu bastante influenciado.

A maioria dos escritores portugueses tem uma relação conflituosa com sua família e seu país, mas mesmo assim a literatura é uma coisa tão importante que o dia nacional de Portugal "não por acaso é o dia de Camões", explicou Pedro Mexia. O autor é um homem à moda da literatura mais antiga, e sua geração viveu um momento único: foi a última a conviver com um país católico, a viver sem tecnologia. Pedro disse que no fundo, o que os mais velhos e os mais novos viveram não tem nada a ver com ele.

Falando sobre o Brasil, Pedro explicou que para os portugueses o país é um sucesso de crítica pela sensualidade e erotismo, muito diferentes do modo português. Antes, o Brasil literário era reduzido a um país rural, e a partir dos anos 80 o Brasil urbano foi descoberto. “A ficção brasileira atual é boa e muito melhor que a portuguesa. Já a poesia portuguesa é muito forte”, comparou o português.

Os autores discutiram as questões essenciais da literatura, dizendo que algumas pessoas trocam o “quem sou eu” pelo “onde estou”, especialmente no caso da tecnologia e das redes sociais. Pedro não acredita que a tecnologia muda as pessoas, mas está mudando a velocidade e quantidade de coisas que se produz a respeito delas: “O que a mídia escreveu sobre Steve Jobs nos últimos dias nunca foi escrito sobre Jesus Cristo!”

Perguntas surgem da plateia a respeito de Paulo Coelho: por que ele é tão lido? Como é tão popular? Pedro disse que não leu, mas Hélio explica que isso se deve ao fato do momento de insegurança que o mundo vive. “Aqui no Brasil somos campeões de homicídios, e hoje somos virtuais prisioneiros, somos prisioneiros domiciliares” explica o baiano, que só não escreve livros de auto-ajuda porque acredita que a ficção as ajuda mais a mostrar a realidade das pessoas.


Rosel e Hélio encerram falando das expectativas de melhora da leitura na Bahia com a chegada da Flica. “É verdade que na Bahia ninguém lê, e é por isso que vamos abrir uma editora. Precisamos trocar o abadá pelo livro!”, diz Rosel.

Aline Cavalcante

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