sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Resumo da mesa “O Fetiche do Livro em Papel e o Meio Digital” – Bob Stein, André Lemos e Fábio Fernandes

foto: Vinícius Xavier

O estadunidense Bob Stein discutiu com o brasileiro Fábio Fernandes a grande questão da literatura em meio digital, com a curadoria específica de André Lemos.

As mídias foram mudadas pelas redes sociais de modo a aumentar a necessidade de se compartilhar coisas com os amigos e o mundo. E por que não vender livros nesse universo? A grande questão discutida, a princípio, é o suporte material para o conteúdo produzido pelos autores e a maneira de remunerar essas pessoas por uma coisa transmitida de pessoa para pessoa digitalmente. “O livro é um dispositivo híbrido e mutante, que foi mudando a materialidade com o passar dos anos”, explicou André Lemos.

Esse dispositivo passa hoje por três mudanças fundamentais: a revolução do suporte material, que produzem maneiras diferentes de ler; a distribuição, que deve ser feita pensando nas novas maneiras de ler e a maneira de escrever, pensando nos novos suportes e nas novas maneiras de ler.

Fábio Fernandes explicou que o livro é um conceito, e que produzir backups não é um hábito recente, já que mesmo a biblioteca de Alexandria fazia cópias e as mandava para Pérgamo. “Talves estejamos enfrentando um conceito de materialidade que nunca havíamos enfrentando antes”, explica. Trata-se de suportes que podem ser frágeis, mas que não mudam em nada a existência do conteúdo, que pode ser mantido digitalmente na internet ou em drivers.

Apesar disso, nenhum dos autores acredita no desaparecimento do livro impresso. Para eles, o real problema deveria ser o “ler ou não ler”. Fábio explica que só agora o Brasil acordou para os livros digitais e que há muito os blogs e outros suportes são os lugares onde mais os jovens escrevem. “A minha geração não escrevia tanto quanto esta”, relata.

Bob Stein afirmou que a questão do livro digital é mais profunda, está relacionada ao futuro da sociedade humana, e que o medo dessa mudança na verdade é medo do próprio futuro. Com o tempo, a ideia de que os livros são coisas fixas e imutáveis vai sumir. “O ser humano demora muito a entender que é possível se adaptar às novas formas”, explicou.

André explicou que o que importa para os autores, no fundo, é que os livros gerem uma trajetória, que sejam “copiosos” (que gerem cópias). “Sem isso, os livros morrem nos HDs”, ilustra. O autor conta que gosta da possibilidade de carregar milhares de livros que não pesam nada, mas detesta a interatividade que esses livros possivelmente têm.

Ao tratar de direitos autorais e meios de remuneração, Bob comentou a situação dos músicos que não ganham dinheiro pela vendagem das músicas, e sim pelos shows. Disse que o mesmo é aplicável no caso dos autores de livros, que ganhariam pela ida aos eventos literários e pelo “pagar para engajar”, que trata-se de pagar para obter um livro contextualizado por explicações e imagens. Quanto à distribuição, Bob disse que uma nova maneira teria que ser inventada com o tempo.

A qualidade das produções on line também entrou em pauta, e os autores deixaram claro que a qualidade não tem, necessariamente, relação com o formato e-book. Pode-se produzir bem nesse formato, embora no caso do livro impresso as editoras funcionem como filtro de qualidade. No caso dos Blogs, André explicou que é um work in progress (tranalho em curso) que podem ser publicados como artigos on line depois de serem revisados.

No quesito relação autor-leitor, Bob apontou uma mudança importante: “Eles se relacionam em uma espécie de hierarquia, que é horizontalizada no meio on line. Essa relação está mudando dramaticamente, e isso vai acontecer nas próximas duas décadas”.

Segundo André, os blogs também funcionam como filtros de compra de livros, através da crítica literária por meio de resenhas. Bob finaliza dizendo que a editoras são “importantes para o capitalismo é muito grande, elas treinam as pessoas para viver sob o capitalismo”.
 

Aline Cavalcante

Um comentário:

  1. Me fiz presente por um dia neste grandioso evento literário,com diversas personalidades do mundo das letras,com suas expressivas palestras recheadas de sabedorias...que muito me enriqueceu culturalmente...e pretendo voltar em futuras edições de tal evento.Agora,o que me deixou surpreso neste literário evento,foi a pouquíssima quantidade de livros a venda.Um diminuto comercio de livros,que não condizia com tal evento;que o simbolo maior é o livro.

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